Ecos da Baixada

Autor Flávio Braga*

As cadeias produtivas da Baixada  Maranhense ainda se sustentam na obsoleta economia de subsistência (produção para o consumo imediato) e as principais atividades econômicas restringem-se ao extrativismo vegetal (babaçu, juçara, buriti etc), pesca artesanal, pecuária extensiva e a pequena agricultura (lavoura rudimentar).  Inobstante  o abundante potencial hídrico, como recurso indutor do desenvolvimento socioeconômico da Baixada, o drama da escassez de água ainda é o principal flagelo das comunidades rurais, no segundo semestre de cada ano.

Nessa perspectiva, há uma circunstância particular que diferencia substancialmente a Baixada das outras regiões pobres do Maranhão: embora o seu povo seja bastante carente, as soluções para melhorar as suas condições de vida são baratas, simples e de fácil resolutividade. Só depende da vontade política dos nossos governantes. Quem conhece de perto a realidade social da Baixada tem a noção exata desse panorama ultrajante, cruel e desumano.

Na estação chuvosa, a Baixada se transforma em uma imponente planície alagada, que adorna o majestoso Pantanal Maranhense. Entrementes, em pleno século XXI, a Baixada ainda agoniza com a martírio da estiagem, desnudando um paradoxo sinistro, que violenta as regras da lógica e as leis da razão. A falta de água já se tornou uma calamidade pública anual, visto que submete as comunidades baixadeiras às mesmas privações e ao mesmo suplício em todos os “verões maranhenses”.

O que mais nos angustia é que esse quadro de penúria é uma tragédia previsível e anunciada, mas incapaz de sensibilizar as autoridades que têm o poder de minimizar tamanho sofrimento, as quais fazem ouvido mouco para o grito de socorro ecoado da voz rouca dos baixadeiros.

Provoca perplexidade lembrar que entre os meses de abril e agosto de cada ano a Baixada fica envolta num verdadeiro mar de água doce. Entretanto, na época do abaixa- mento (entre julho e setembro), essa exuberância de água escoa para o mar e os campos da Baixada se transformam numa paisagem árida, imprópria para qualquer atividade produtiva, como consequência direta da omissão, descaso e negligência do Poder Público.

Hodiernamente, além da estiagem que castiga a Baixa- da todos os anos, ela ainda padece com a progressiva invasão da água salgada (salinização), que produz grandes manchas brancas na superfície dos campos (acúmulo de sal), comprometendo o equilíbrio ecológico da região.

A singeleza do senso comum nos ensina que a retenção da água doce nos campos da Baixada representa a maior ri- queza para as atividades de pesca de subsistência, pecuária, piscicultura, agricultura familiar e criação de pequenos animais, como galinhas, patos, porcos, caprinos e ovinos.

Malgrado os seus encantos e belezas naturais (que a tornam potencialmente rica), a Baixada continua bastante desassistida pelas diversas esferas governamentais. O que o clamor baixadeiro mais reivindica do Poder Público é a construção de barragens, açudes e canais que promovam a conservação da água doce. O resto pode deixar por conta da pujança da natureza e da labuta do nosso caboclo. Tendo a água disponível, eles sabem se virar muito bem. A natureza é o berço de uma vegetação aquática (guarimã, aguapé, orelha de veado, mururu etc) riquíssima em nutrientes para alimentar peixes e outros animais. E o camponês entra com a valentia da sua força de trabalho arrojada e obstinada.

Nesse contexto, a construção dos Diques da Baixada se tornou uma necessidade imperiosa para solucionar o tormento infligido pela seca e pela salinização. Os diques serão responsáveis por impedir o avanço da água salgada (salinização) rumo aos campos inundáveis da Baixada e armazenar, por maior período de tempo, a água doce que transborda dos lagos, inunda os campos naturais e se perde para o mar, sem alterar, no entanto, as cotas máximas naturais de inundação. Essa retenção aumentará a disponibilidade hídrica na Baixada, sobretudo no período crítico de outubro a dezembro.

Avante, nação baixadeira!!

Artigo publicado no Livro ECOS DA BAIXADA, páginas 83/85.

*Flávio Braga é natural de Peri-Mirim (MA). Graduado em Direito pela Servidor do TRE/MA. É presidente de honra do Fórum em Defesa da Baixada Maranhense, professor, escritor, articulista e blogueiro. É autor da obra “Dicionário do Baixadês”.

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