O RIO SÓ QUER PASSAR

O RIO SÓ QUER PASSAR

Por Gracilene Pinto

       É triste e realmente de se lamentar a situação dos ribeirinhos que passam pela tribulação das enchentes. 

        De fato, isso ocorre de forma cíclica em todos os lugares onde moradias são erguidas às margens de rios e lagos. 

        Mas é um fato também que o próprio homem cria essa situação para si. 

        Todos sabem que na estação chuvosa os rios engrossam seu caudal. É o ciclo das águas, que faz parte da dinâmica da Natureza. 

         Sabem também que nos anos mais rigorosos a pancada de chuva é violenta. No Maranhão, às vezes quase diluviana. 

         Por tais razões, o leito dos rios não pode ser medido pelo que apresenta na estação seca. 

         Desta forma, quem constrói nas proximidades das margens durante a estação seca, fatalmente estará sujeito à invasão das águas nos períodos de chuvas copiosas,  porque invadiu uma área que pertence ao rio. Simples assim!

           O leito é o domicílio natural do rio, mesmo quando não o está ocupando. Tanto quanto ninguém deixa de ser proprietário da sua casa quando está fora dela.

            A Natureza exige respeito, mas o ser humano não considera isso. Então, nos períodos de maior intensidade de chuvas, quando se enchem as cabeceiras dos rios, a água desce com violência, também sem consideração pelo que está à frente. 

            É o ciclo natural das águas. É natureza cobrando o seu tributo, já que, verdadeiramente, foi ela a invadida em sua propriedade. O rio só quer passar!

            Eu só desejo que a misericórdia divina venha em socorro da insensatez humana e que se consiga socorrer aos atribulados sem vítimas e com o mínimo de prejuízo material.

O CICLO DAS ÁGUAS

O CICLO DAS ÁGUAS

Por Gracilene Pinto

Márcia Fernanda Gonçalves, geógrafa e ambientalista, professora da UFMA (filha da autora).

É triste e realmente de se lamentar a situação dos ribeirinhos que passam pela tribulação das enchentes.

De fato, isso ocorre de forma cíclica em todos os lugares onde moradias são erguidas às margens de rios e lagos.

Mas é um fato também que o próprio homem cria essa situação para si.

Todos sabem que na estação chuvosa os rios engrossam seu caudal. É o ciclo das águas, que faz parte da dinâmica da Natureza.

Sabem também que nos anos mais rigorosos a pancada de chuva é violenta. No Maranhão, às vezes quase diluviana.

Por tais razões, o leito dos rios não pode ser medido pelo que apresenta na estação seca.

Desta forma, quem constrói nas proximidades das margens durante a estação seca, fatalmente estará sujeito à invasão das águas nos períodos de chuvas copiosas, porque invadiu uma área que pertence ao rio. Simples assim!

O leito é o domicílio natural do rio, mesmo quando não o está ocupando. Tanto quanto ninguém deixa de ser proprietário da sua casa quando está fora dela.

A Natureza exige respeito, mas o ser humano não considera isso. Então, nos períodos de maior intensidade de chuvas, quando se enchem as cabeceiras dos rios, a água desce com violência, também sem consideração pelo que está à frente.

É o ciclo natural das águas. É natureza cobrando o seu tributo, já que, verdadeiramente, foi invadida em sua propriedade.

Eu só desejo que a misericórdia divina venha em socorro da insensatez humana, e que se consiga socorrer aos atribulados sem vítimas e com o mínimo de prejuízo material.

A EDUCAÇÃO LIBERTA E TRANSFORMA

Por Expedito Moraes

Dona Louedes, certa manhã, conversava com seus alunos, como sempre fazia.

Dizia ela que, no futuro, quando estivesse bem velhinha, teria muita dificuldade para subir aquela imensa ladeira da Rua da Glória, onde morava e fazia de sua casa uma pequena escola. Mas, que também tinha certeza, que num desses dias iria aparecer um de nós em um carrão e lhe dar uma carona.

Naqueles idos anos 60, sonhar em ter um carrão era simplesmente um sonho.

Alguém perguntou como isso seria possível, se todos ali eram pobres?

Ela, com muita sabedoria, como sempre, respondeu:
– Vocês estão aqui para aprender como podem ter sucesso na vida.

Vinte anos se passaram, D. Lourdes, aos 50 anos, se formou em Pedagogia, que até então era leiga. Passou em um concurso municipal e estava lecionando numa importante escola municipal.

Eu, que havia terminado recentemente minha graduação e já estava ocupando um importante cargo público, consegui a nomeação dela para o cargo de diretora daquela escola.

Cheguei de surpresa naquela mesma casa onde passei parte da minha infância aprendendo com o ato de nomeação na mão. Fui em meu carro, recentemente comprado, apanhá-la para levar para sua posse.

No caminho, morrendo de felicidade, ela me disse que jamais esperara que um dia um ex-aluno fizesse isso.

– Como assim? – respondi rindo:

 – A senhora pode não lembrar… mas, eu lembro bem, e repeti a frase que ouvira anos atrás. 

Mais tarde, na solenidade de posse, entre risos e lágrimas ela contou essa história. Dona LOUEDES ensinava VALORES.

(Expedito Moraes), fevereiro de 2023

PRIMEIRO CAUSO: APELIDOS QUE MATAM

PRIMEIRO CAUSO: APELIDOS QUE MATAM

Por Expedito Moraes

Lá prás bandas do Pulidoro, povoado fora da zona Urbana de Cachoeira, teve um fato acontecido assim:

Quem nos relata e espalha pelo mundo inteiro é o influente blogueiro Zé Minhoca. Porém, nessa época, apesar do avanço tecnológico extraterreno dos cachoeirenses, Zé Minhoca era chamado mesmo era de Linguarudo e Fuxiqueiro.

Pois bem, a notícia correu igual a Curacanga nos campos secos do verão ou a Pororoca em noite de lua cheia no leito raso do rio Pindaré.

Segundo o Linguarudo, Tonico Isca de Piaba, apelido que lhe foi dado na infância por ser o sujeito gordinho e batorezinho, era desaforado, não “injeitava” uma discussão e briga. Era metido a valente. Andava pelos campos a cavalo com um facão Colin maior do que ele do lado. Mas, se aparecesse um cabra pra lhe chamar pelo apelido… Ave Maria!… Tonico ficava doido. Se atirava do cavalo em baixo, já tirando o facão da bainha, fazia um “rapa pé”, e a molecada caía no mato.

Tonico ficava “bufando de raiva”. E foi numa dessas vezes que Tonico “dançou”.
Empolgado com tanta gente lhe ouvindo antes de começar a ladainha na casa de D. Hipólita, Zé Minhoca, com ar de apresentador da GLOBO, dizia que Tonico tinha se casado há pouco com Maroca, uma moça que “caiu na vida” após ter sido vista deitada e abraçada por trás de uma moita com um tal de “Porco D’dágua”, barqueiro que desembarcou no porto de Djalma Moreno para dançar no “arrasta pé” de Olegário.

Existe um “dito” popular naquelas bandas de que as mulheres dali não podem ver um embarcadiço de fora que ficam doidinhas da cabeça.

Ora, com o calor do belo corpo e dos rebolados de Maroca dançando “Pisa na Fulô”, suando tanto que o azeite de carrapato do cabelo escorria pela blusa e também pela camisa do barqueiro, o cabra ficou doido. E ela também. Saíram do salão pra mijar. Só que quem percebeu a fuga, para o azar deles, foi o Fuxiqueiro.

Não demorou “uma hora de relógio”, e só duas pessoas sabiam do acunticido – Deus e o mundo. A moça ficou tão “mal falada” que, depois disso, só quem a quis como esposa foi “Isca de Piaba”.

Mesmo assim, MAROCA pediu um juramento dele: – Tonico, tu pra mim é só TONICO, entendeu? No dia que um “filho de corno” lhe chamar desse seu apelido, tu vai me prometer que vai dar uma surra em quem quer que seja ele. Se tu não fizer isso, eu te largo.
Tonico, já totalmente “inrabichado” por ela, sacudiu com a cabeça e saiu sisudo e triste, lembrando de Ariston, cabra valente acostumado a gritar na beira do campo de bola o apelido de um outro sujeito brabo. Ariston levava sempre com ele um patacho, desse de roçar, que servia para cortar a carne do churrasco que ele fazia e, ao mesmo tempo, se proteger quando gritava o apelido: “Zé da Burra”.

Tonico já estava acostumado com os gritos de Ariston: “- segura essa bola “Isca de Piaba!”. Ficava desajeitado, isso ficava, mas também gostava, e muito, da feijoada que Ariston fazia e oferecia aos atletas.

Nesse dia, teve vontade de conversar com Ariston e lhe falar sobre a conversa. Depois, pensou que não ia adiantar. Ariston era gozador e a coisa podia até piorar.

Resolveu se aconselhar com Olímpio para lhe pedir que conversasse com Ariston. Mas, esse daí ainda era pior. De vez em quando, além de chamá-lo pelo apelido, ainda lhe tratava de coisa pior. Desistiu. Ocorre que, no sábado seguinte à conversa, Maroca fez um mocotó reforçado, com macaxeira, banana, tutano, e muito nervo. Só coisas que faziam mal pra Tonico.

Semanas antes, Tonico fora levado às pressas ao posto médico, quase enfartando. A pressão estava 22/8. O médico lhe aconselhou a se alimentar de coisas leves e a suspender o cigarro, a cachaça, e outras coisas:
– Mulher, tu te esqueceu do que o médico disse?! Essa comida não é muito pesada?
– Tonico, tu não vai jogar bola hoje? Isso tudo aí tu vai “disgastar” rapidinho.

Tonico até pensou que a mulher queria que ele morresse. Mas, terminou achando que ela estava era cuidando bem dele.
Só que o “Capeta é muleque”. E quando Tonico chegou na beira do campo, olha quem ele encontra: Olímpio e Ariston. Olímpio ainda fumando e tomando cachaça de Ipixuna. Os dois logo o cumprimentaram chamando pelo apelido.
Tonico pediu para falarem baixo. Disse que a mulher não gostava.
Piourou.
Olímpio lhe ofereceu um cigarro e uma talagada de cachaça.
O jogo ia começar.

Ariston lhe ofereceu um copo de cerveja. Tonico, ao que parece, se esqueceu do médico. Tomou tudo e fumou.
Botaram Tonico no ataque. O sujeito parecia Bimbinha. Baixinho, corria muito, driblava o time inteiro e gol… nadica de nada.
Maroca, resolveu visitar a tia que morava ao lado do campo.

No minuto que ela ia passando pelo campo, viu Tonico driblar um, dois… a defesa adversária toda. Até o goleiro. E chutou a bola…. pra fora.
Aí, a pessoal da barreira inteira gritou “VAI TE LASCAR, ISCA DE PIABA!”.
Maroca, vermelha igual a pescoço de galo carioca, tentou se esconder. Não adiantou. Ariston já tinha lhe olhado e, virando pra ela, gritou: “Senhora, este seu Isca de Piaba não serve nem pra fazer gol, imagina pra lhe fazer um filho!”
Nessa hora, o sangue de Tonico explodiu no corpo inteiro, subiu à cabeça, estancou pelo coração, e o pulso latejava igual venta de cavalo cansado.

Maroca, sem poder falar, aponta pra ele e faz um sinal de quem corta alguma coisa com um patacho e, lívida, gritou pro marido: “Vou voltar e arrumar tua trouxa”.
Tonico não ouviu mais nada, teve um ataque de coração fulminante.

Segundo Zé Minhoca, os culpados por Tonico ter “batido as botas” e se mudado para a “cidade de pé junto”, são: Maroca, Ariston e Olímpio.
O pobre nem teve tempo de pegar sua trouxa, mas Maroca preparou uma bem bonitinha, com tudo dele, e jogou dentro da cova.

Expedito Moraes, 11.02.23

O MARANHÃO REAL E O VIRTUAL

O MARANHÃO REAL E O VIRTUAL

Por Expedito Moraes

O Estado do Maranhão já era há 8 anos, o penúltimo estado mais pobre do Brasil, todos os governantes juraram, nos seus discursos de posse, tirar o estado dessa terrível situação. Podem até terem tido essa intenção, entretanto, o resultado tem sido desastroso. Atualmente, batemos recorde em todos os índices negativos, mantendo-nos em estado de pobreza e miséria, nossa Baixada no bolo.

Nas beiradas dos campos, nas capoeiras, nas beiras do rios, no meio da seca e dos alagados; crianças dormem com fome, sofrem com ataques de verminose, com corpos esquálidos, desnutridos, sem assistência médica onde, ainda, a ambulância é uma rede velha pendurada num pau carregada pelos caminhos de lama ou torrão. Ao chegar ao hospital na sede do município é colocado numa ambulância para transportá-lo pelas estradas esburacadas e pelo Ferry, até o Socorrão. Chega vivo, porém, pior do que estava.

E a Educação? Bem, neste item continuamos sendo os piores. Razão, pela qual, fica impossível superar a barreira da pobreza.

Somos impotentes para resolver isto? Acredito que não. Falta de recurso não é. As transferências federais e estaduais para o Estado e os municípios nunca deixaram de chegar. Essas transferências são constitucionais, em hipótese alguma um governante pode deixar de cumprir. O Maranhão é um dos estados que depende destas transferências; imaginem nossos municípios. 

O Maranhão tem o maior índice de famílias beneficiadas pelo Auxílio Brasil (Bolsa Família), são 1,22 milhão de famílias contempladas, um investimento federal de R$ 743,3 milhões. Entre os lares beneficiados pelo programa permanente de transferência de renda do Ministério da Cidadania, mais de 1 milhão, ou 82,5%, têm uma mulher como responsável financeira. Levando em consideração 5 pessoas por família são mais de 5 milhões de pessoas beneficiadas. Ou seja, aproximadamente, 70% da população. Na capital São Luís, 123,7 mil famílias são beneficiadas, fruto de um investimento de R$ 74,4 milhões.

Para se ter uma ideia, em boa parte dos municípios do Estado, principalmente os da Baixada o volume de recursos proveniente desta transferência são maiores do que o FPM (Fundo de Participação dos Municípios).

O paradoxo é que estes recursos não ficam nos municípios e nem no Estado.  

O Desafio é transformar o virtual em real. No virtual tá tudo muito lindo, mas o real é assustador. Vamos à luta!

Expedito Moraes, fevereiro/2023

Eduardo Castelo Branco, um empreendedor admirável

Eduardo Castelo Branco, um empreendedor admirável

Por Expedito Moraes

Eduardo Castelo Branco, empreendedor, ferrenho defensor do desenvolvimento da Baixada e em especial a sua terra – Anajatuba, onde tem vários investimentos.

Nos primeiros anos deste século conseguiu com o Governo do Estado do Maranhão, à época, José Reinaldo Tavares, por meio do deputado João Evangelista, ambos seus amigos pessoais, recursos para uma das obras de suma importância para aquele município, que foi a dragagem do igarapé de Troitá gerando toneladas de pescado semanalmente. Dessa experiência surgiu a ideia de construir as valas (açudes de 12m x 400 m) nos campos para criação de peixes e outros animais, bem como cultivos de modo integrado e sustentável.

Em 2015, o Fórum em Defesa da Baixada Maranhense (FDBM) visitou os empreendimentos. Desse empreendimento tem-se o cultivo da Manga Gigante.

Sempre esteve envolvido com os principais projetos estruturantes da Baixada, por exemplo: o Diques da Baixada e a ponte que ligaria Anajatuba a São João Batista, e outros.

Articulado politicamente e com bom trânsito na administração atual, reuniram-se, neste sábado (28/01/2023), em sua casa em São Luís, várias autoridades do governo atual e de outros dos segmentos de empreendedorismo para discutirem assuntos pertinente à possibilidade de investimentos no Maranhão e, consequentemente, para o desenvolvimento da Baixada Maranhense.

O Dr. Márcio Vaz fez uma apresentação discorrendo sobre a necessidade da construção dos Diques e outras questões relacionadas com ao meio ambiente. Fui convidado, mas, por motivo de força maior não pude comparecer.

O debate foi excelente, disse-me Eduardo, bem como me afirmou que haverá nova reunião.

Vejam os presentes:


Da esquerda para direita.

Secretário adjunto da indústria e Comércio, Ubiratan. Secretário Cassiano , sec. Agricultura José Antônio, consultor Márcio Vaz , Pereira e Bergman , superintendentes na Sagrima , Max diretor CIM (Consórcio dos Municípios do Vale), Secretário de Pesca , Patrick.

TAPETE VERDE NO RIO

TAPETE VERDE NO RIO

Por Expedito Moraes

Amanhece chuviscando grosso. Durante a noite choveu tanto que alagou tudo. Nos campos, o capim ficou debaixo d’água. As águas escorrem pelos córregos até os igarapés, a correnteza é grande e leva tudo que encontra pela frente; animal afogado, galhos de árvores, estercos, troncos secos, derruba barreiras, arrasta tudo e despeja nos lagos e rios, assoreando os seus leitos.

Depois da tempestade, ouve-se o troar das águas despejadas pelos igarapés no rio. Nessa brenha mistura-se uma incômoda sinfonia executada por sapinhos, gias e cururus. Passam a noite nessa festa que só acaba com o raiar do sol. Acordo zonzo. Quase não dormi com toda essa barafunda. Ainda mais que, a embira que amarrava a meaçaba da porta da sala arrebentou com a força da trovoada e invadiu a sala, molhou a minha rede armada de um esteio à grade do meio me obrigando a desarmá-la e procurar outro lugar que não tivesse goteira.

Desço a escada para o terreiro e me deparo com um dos mais belos cenários do Rio Pindaré neste período. Estava coberto de um lindo tapete verde de uma margem a outra. Era início de janeiro.

O CAPITÓLIO TUPINIQUIM

O CAPITÓLIO TUPINIQUIM

Por Joãozinho Ribeiro*

A quem interessar possa / A história embora seja / Coisa escrita no presente / Sempre vasculha o passado / E traça o futuro da gente.

Quando afirmo que o futuro é pra ontem, é porque pelo passado recente nem teríamos direito ao amanhã. O tempo que se nos apresenta é de reconstrução e construção das relações humanas. A mudança é um processo permanente. A única coisa perene em todo o sempre do Universo em desalinho.

Implacável e contínua, a marcha dos acontecimentos convoca os sujeitos e os objetos da história para os atos, cujas digitais ficarão para os anais dos feitos das suas (des)humanidades. Uns cometerão canções e versos; outros, crimes e genocídios, que serão lembrados pelas vindouras gerações. A História continuará sendo o tribunal do mundo. Dela, não escaparão os ratos, ainda que abandonem as embarcações e retornem aos esgotos, ou que intentem dissimulados discursos, com auras de um intelectualismo reacionário e defensor do silêncio dos culpados.

Uma linha no horizonte / Um ponto no firmamento / A humanidade do Planeta / Despenca a todo momento.

 Devemos ser, cada vez mais, criteriosos e seletivos para escolher os confrontos e conflitos pelos quais valha a pena lutar. A nossa passagem por esta estação terrena é breve e única. Precisamos valorizar as coisas aparentemente pequenas e insignificantes, que valem e justificam o milagre da existência.

A paz e o reencantamento do mundo retornam como bandeiras necessárias para serem içadas nos pavilhões das nossas esperanças. Sem a pieguice contemplativa das omissões, nem o açodamento das ações destemperadas, inoculadas nos discursos de ódio e na pregação da violência, como meios e fins de resolução da peleja da sobrevivência.

Quem sabe, o recado de Modigliani ainda esteja bastante vivo e adequado para o momento: “O dever de todo artista é salvar o sonho!”. Quem se habilita e se credencia para esta tarefa coletiva e urgente? Qual parte caberá aos ditos intelectuais e acadêmicos nesta contenda de enfrentamento da barbárie e do obscurantismo?

Tormenta, degredo, tragédia / Silêncio que se alimenta / Do roteiro da comédia / Desumana e tão sangrenta.

 Trago comigo algumas respostas, sem nem mesmo conseguir formular as perguntas correlatas. Talvez estas nem existam, porém é importante não negar a possibilidade de suas existências, assim como se dizia das bruxas, em tempos de cumplicidades e pensamentos medievalescos, para justificar a inquisição e a queima dos corpos das mulheres, condenadas sem o mínimo direito de presunção de suas inocências.

Labaredas da vida / Acendendo as razões / E o Planeta girando / Em muitas revoluções.

Quem sabe precisemos retornar ao dilema de Galileu, diante do Tribunal do Santo Ofício, com todas as controvérsias das narrativas, e afirmar com todas as letras: “E pur si mueve!”

Navegar é preciso, Pessoa! Mais do que antes, por mares nunca e sempre navegados! Ou não! Valendo o risco que toda descoberta oferece! Os rios nos cios, as águas vão rolar, apesar daqueles contrários aos seus movimentos! A Terra gira, o mundo gira, o planeta respira, a natureza conspira! A poesia inspira!

A barca da existência / Navega sua leveza / Flertando com a natureza / Nas águas da paciência / Mergulho na finitude / Desejo e delicadeza / Deságuam na correnteza / Da fonte da juventude.

Hora da arte mostrar que existe porque já não basta a vida; e que esta, sem dignidade e respeito, não merece assim ser denominada. Vida e sonhos não são excludentes. Não precisamos importar caricaturas deformadas de atos que glorificam a barbárie e a incivilidade, com seus negacionismos baratos e dantescos. Prefiro finalizar o presente com uma preciosa exaltação da existência, do escritor angolano que nos visita, José Eduardo Agualusa: “A vida não é menos incoerente do que os sonhos; é apenas mais insistente.”

(*) Joãozinho Ribeiro (poeta e compositor, membro da Academia Ludovicense de Letras) e coator do livro Ecos da Baixada, com o artigo, “Ana, de Peri-Mirim para o mundo“.

A POROROCA E A SARAFINA

A POROROCA E A SARAFINA

Por Expedito Moraes

Em sua origem tupi “pororoca” quer dizer algo como “causar um grande estrondo”. E foi esse o nome escolhido para nomear um dos mais impressionantes fenômenos da natureza, que ocorre quando o mar invade um rio na forma de uma grande onda que se choca contra a corrente fluvial, podendo atingir até quatro metros de altura.

Nas luas cheias e novas, as marés crescem bastante no Golfão Maranhense, chegando em alguns meses a alcançar mais de sete metros acima da lâmina de baixa-mar. De modo que invade o estuário do Mearim e avança furiosamente pelos rios Mearim e Pindaré, invertendo a corrente do rio. Nestas fases da lua, a velocidade da correnteza rio acima é muito maior, e permanece durante quase três horas, elevando a lâmina d’água até o cimo das barreiras. Principalmente, entre os meses de março e abril ou setembro a dezembro.

Nasci na margem direita do Rio Pindaré, no povoado Cachoeira, Município de Cajari. Do lado esquerdo é Viana.

Nessa época não existia assoreamento. As matas ciliares estavam perfeitas, o rio era altamente navegável, não havia estradas na região, e as lanchas de grande porte faziam o transporte de cargas e passageiros da cidade de Pindaré até São Luís, passando pelas demais localidades ribeirinhas.

Durante o inverno (período chuvoso), essas embarcações faziam tal percurso em 24 a 30 horas. No verão (período de estiagem), a viagem podia durar até 72 horas. E quem determinava esse tempo eram as marés, pois com o leito mais seco, os navegantes obrigavam-se a fundear em vários trechos para esperar a maré, até que esta elevasse a lamina d’água e evitasse o encalhe nas croas.
Ocorre que, quanto mais as embarcações se aproximavam do estuário, maiores eram as pororocas.

Lembro de muitos naufrágios e ameaças ocorridos quando eu ainda era criança. Havia um determinado lugar entre a Boca do Rio Mearim (local do encontro do Pindaré com o Mearim) e o Porto da Gambarra, chamado Malhadinha, que era o terror dos embarcadiços.

Fundear no Canto do Lago, local mais profundo com o canal passando junto às altas barreiras e mangueiros, já se tornara obrigatório. As embarcações eram amarradas com grossos cabos de manilha, com o ferro (âncora) arriado, para esperar a passagem da pororoca e poder atravessar a Malhadinha sem perigo.

Essa parada forçada durava de seis a oito horas. Rezava-se para que isto não acontecesse à noite, e, se fosse o caso, que não chovesse, e chovendo, que não fosse com trovoadas. E caso tudo isso acontecesse, que não fizesse frio. Imagine um cenário desse com as terríveis muriçocas, tão comuns nesses locais. Nem se podia abrir a boca. Quando o timoneiro da embarcação por imperícia ou imprudência não esperava a maré se encher nesse “fundiador” seguro e aventurava-se a atravessar a tenebrosa Malhadinha, corria grande risco de encalhar nas suas imensas croas ou bancos de areia, o que poderia redundar em naufrágio.

Ocorre que, esse pedaço do rio tinha o solo composto por um tipo de material que chamavam de “esmeril”, que transformava essas croas em areia movediça. Com o peso da embarcação, da carga (normalmente com 1.200 a 2.000 sacas de arroz e babaçu nos porões e por cima do convés), dos passageiros, animais e bagagens, corria um risco enorme de encalhar e ser tragada pela croa. À proporção que a maré baixava, a lancha ia sendo sugada e terminava ficando presa na croa.
O verdugo é uma peça de madeira forte que vai de um extremo a outro das embarcações, e, além de protegê-las de danos em choque com outros obstáculos, serve como limite entre o casco e convés. Quando a lâmina d’água ultrapassa essa peça é sinal de que a embarcação está com excesso de carga e corre perigo de ter seus porões invadidos pela água diante de banzeiros e pororocas. Da mesma forma, num encalhe desse tipo, é certo ter seu casco enterrado até à altura do verdugo. Isto é como uma sentença de morte – naufrágio certo.

Naquele trecho a Pororoca vinha com mais de cinco metros de altura e com uma força descomunal, de modo que alagava, e até emborcava, a embarcação, que, assim enterrada, pesada e imóvel, com a hélice e o leme presos na areia, não obedecia a nenhum comando.

Numa situação assim, restava esperar por um milagre. Wady Sauáia em “Cenas que Ficam”, proprietário da lancha Afife, assim descreve este fenômeno que ocorria no local: “Falo, então, para o Dizim que se encaminhe para o Corredor da Morte, pois queria ver se aquela onda se formaria da mesma forma que no dia anterior. Não demorou e bem a nossa frente avistamos um verdadeiro “Monstro” de água e espuma marrom que avançava furiosamente destruindo a margem e levando tudo que encontrava pela frente.” Esse era o cenário, e foi essa imagem que ficou também na minha memória. Não tinha como não sentir pavor.

É preciso registrar que, tanto na citação do autor como na minha, as lanchas estavam flutuando, e não encalhadas. Mas, mesmo assim era perigoso. Podia emborcar; no terrível choque do casco com a pororoca e as seguidas ondas “cavaleiros”, poderia sacar uma das tábuas do casco, passar por cima do porão, o que, caso não estivesse vedado por resistentes planchas e encerados, poderia enche-lo de água ou quebrar o leme, e a lancha ficaria à deriva sobre as ondas.

Pois, em 1956, foi exatamente com um “monstro” desse que, numa noite de lua nova, quando ela é maior, por volta das 19 horas a SARAFINA (em hebraico significa “aquela que protege o trono de Deus”) encontrou na Malhadinha, e “se perdeu”.

A lancha estava enterrada até o verdugo, imóvel e pesada, e a Pororoca passou por cima levando tudo que podia. A maré subia velozmente, a escuridão mais parecia um breu, e os passageiros subiram até o segundo toldo e começaram a queimar roupas na esperança de serem vistos por alguma embarcação.

Ocorre que, naquela época essa região era totalmente inóspita, ninguém habitava por ali. E, mesmo que tivesse alguém por perto, teria que dispor de uma outra embarcação capaz de abrigar os muitos passageiros e tripulantes.

Mas, milagres acontecem. Eis, que surge ao longe as luzes de uma embarcação. A correnteza era imensa. Todos queimavam as roupas, desesperados, porque, se demorasse muito, a água poderia chegar ao último toldo, e a morte seria certa. Mesmo para quem soubesse nadar, na escuridão, com a correnteza e água agitada, o nadador não saberia para que lado estaria a terra.

Porém, finalmente a embarcação se aproximou e conseguiu resgatar todos que estavam ali.

No dia seguinte, pela manhã, ficamos surpresos com o repentino desembarque no porto da nossa casa, dos muitos sobreviventes trazidos pela bendita lancha salvadora.

Todos foram aconselhados a ficar em nossa casa para esperar a lancha, da qual meu pai era o comandante, para levá-los aos seus Municípios.
Era desesperador. Alguns choravam, ainda apavorados. Outros, lamentavam as perdas, pois não conseguiram salvar nada. Outros, ainda, agradeciam a Deus por estar vivos. Os sobreviventes estavam com fome, sujos e sem roupas para trocar. Minha família fez rápida campanha para adquirir vestimentas para essas pessoas que ficaram só com a roupa do corpo.

Expedito Moraes
18/03/2020

O VELHO PORTO DA RAPOSA

O VELHO PORTO DA RAPOSA

Por João Batista Duarte Azevedo*

Não sei ao certo quando surgiu o Porto da Raposa. Quando me entendi, ele já existia. Mas só vim conhecê-lo de fato quando vim para a cidade pela primeira vez. Tinha que se passar por ali. Era lá o embarque nas lanchas que nos traziam até a capital.

Encravado às margens de extenso Igarapé que rasga continente adentro, o antigo Porto da Raposa ficava no povoado campestre de mesmo nome, a poucos quilômetros do Golfão Maranhense (Baia de São Marcos) e do estuário do Rio Mearim. De um lado uma extensa cortina verde formada por manguezais, de outro, mais para dentro do continente, extensas áreas de campos e tesos.

Ao longo de muitas décadas foi a única porta de entrada e saída de muitos municípios da baixada, especialmente São João Batista, São Vicente Férrer, Matinha, entre outros. Estamos falando de mais de meio século. Naquele tempo não havia estradas que ligassem estes municípios à Capital do Estado. O porto cumpria assim então a sua primordial finalidade. Era ponto de escoamento de mercadorias que iam e vinham e de embarque de passageiros que se destinavam rumo a São Luís e vice-versa.

Ainda lembro vagamente de algumas particularidades daquele lugar. Eram dois os principais atracadouros, exatamente para duas lanchas que costumavam fazer o transporte de cargas e passageiros. Eram dois pares de extensas passarelas, construídas de achas e mourões de mangue que nos levavam até ou a parte baixa, ou à parte alta da lancha, o convés, onde ficava o timoneiro, ou mestre, e onde ficavam os passageiros.

Nas lanchas, percebia-se um hiato de classes plenamente justificável. Na parte de baixo, costumavam viajar aqueles que transportavam cargas além de suas bagagens pessoais. Um odor forte de óleo e amônia exalava em meio ao cheiro de café e cozidão que costumava vir das bandas da cozinha. Já na parte alta, o segundo andar, vinham os mais destemidos, os que não tinham muito medo dos constantes balanços no alto mar e não costumavam expelir involuntariamente suas comidas boca a fora.

Às vezes três ou mais lanchas ancoravam por ali. Todas bem nomeadas. Maria do Rosário. Santa Teresa, esta, pequenina e valente, boa de navegação. A Proteção de São José, que sucumbiu na maior tragédia náutica ocorrida naquela travessia. A Ribamar. A Fátima. A Nova Estrela e a Imperatriz foram as últimas dos tempos auge do transporte marítimo. Nestas últimas fiz a maioria das minhas viagens.

A Raposa era um lugar como muitos outros numa área de campo. As casas de jirau, mostravam que ali em épocas de inverno costumava ser úmido e encharcado. Eram habitações de madeiras, desde o assoalho até as paredes. As cobertas, algumas eram de telhas de barro, outras de pindobas. Naqueles tempos de plena atividade do velho porto, Raposa devia ter cerca de cinquenta casas. A maioria eram de pessoas que viviam em função do porto. Pequenos comerciantes, estivadores, donos de pequenas embarcações e até mesmo ambulantes que viviam da compra e venda de mercadorias e produtos. Eram todos hospitaleiros. Lembro de Seu Dominguinhos, sempre cortês, atencioso, mas, dizem os que mais o conheciam, de uma astúcia e malícia sem precedentes.

Entre as muitas peripécias atribuídas a Seu Dominguinhos está a de ter dado um pernoite ao Padre Dante que certa vez se deparou numa noite escura e não quisera voltar pra sede. Fora aconselhado a ficar por ali. Após acomodar o Padre em uma rede, contam que Seu Dominguinhos acendeu uma fogueira de pau de siriba, uma espécie de mangue que ao queimar expele uma fumaça ardente aos olhos de qualquer cristão, ainda mais a quem não era acostumado, como o sacerdote italiano. Contam que o Padre passou a noite em claro, rezando para que logo amanhecesse, enquanto Dominguinhos se contorcia de risos. Ao amanhecer os olhos do reverendo pareciam duas bolas de sangue.

As principais casas de comércio e pequenos restaurantes estavam ali em redor do armazém. Um velho prédio de alvenaria que servia como uma espécie de alfândega. Era lá que trabalhavam os fiscais da receita estadual. Ali eram expedidas e pagas as guias de impostos sobre o que era embarcado, fossem cofos de farinha, cofos de banana, cofos de criações, pequenos e grandes animais. Quase nada passava sem as vistas dos coletores de impostos. Nos dias de embarque e desembarque era bastante intenso o movimento de pessoas por ali. Fossem os que viajavam, os que ali trabalhavam, e os que apenas buscavam estar no meio do vai e vem das pessoas. Não faltavam também os donos de bancas de jogo de caipira. Mas era uma alegria só. O povoado era tão movimentado que ganhou até um gerador de luz para garantir a permanência das pessoas que por ali transitavam e trabalhavam até o zarpar das lanchas.

Nos dias que não se tinha esse movimento proporcionado pelas lanchas, o povoado de Raposa mantinha um quotidiano normal. Moradores em suas tarefas diárias preparavam-se para o dia seguinte. O incremento maior do porto fora sem dúvida quando da construção da “barragem da Raposa”. Esta grandiosa obra – tanto pela extensão como na forma de como fora construída, realizada pelo então prefeito Luiz Figueiredo – permitiu um tráfego maior de veículos por mais tempo ao longo do ano.

A partir da abertura da Estrada da Beta, nome que fora dado inicialmente pela população para o ramal São João Batista – Bom Viver, que ligou a sede do município à MA -014, começaram ainda que com muitas dificuldades por conta das condições da estrada, os transportes de cargas e passageiros por via terrestre, fato este que atingiu frontalmente o cerne da economia gerada no Porto de Raposa por conta do transporte marítimo. Os primeiros ônibus a fazerem linha para São João Batista e até mesmo para outros municípios da Baixada foram os da Expresso Florêncio, que inúmeras vezes não completavam o trajeto da viagem.

Hoje, com poucas casas e sem aquele fervilhar de pessoas que faziam dali um marco da economia do município, o Porto da Raposa precisa se redescobrir com um outro propósito já que a rodovia nos leva até a capital São Luís, ou a terras além do estado.

Sempre defendi que o antigo e outrora próspero Porto da Raposa deveria absorver em tempos atuais outras finalidades. Ao que parece, por obra e graça do tempo e pela resistência de alguns poucos moradores que ali ainda residem, esta é uma realidade próxima das novas gerações. Por conta de sua aprazibilidade e beleza natural, o velho Porto de Raposa poderá ressurgir como um ponto de lazer rústico. Para tanto falta-lhe estrutura e muito precisar ser feito.

Com a palavra os homens dos poderes!

João Batista Duarte Azevedo* é natural de São João Batista (MA), graduado em Letras pela UFMA, professor e editor do blog “São João Batista On-Line”, coautor do livro Ecos da Baixada, postulante a uma cadeira na Academia de São João Batista.