O NAUFRÁGIO DA LANCHA PROTEÇÃO DE SÃO JOSÉ, OU O PODER DA MÚSICA

O NAUFRÁGIO DA LANCHA PROTEÇÃO DE SÃO JOSÉ, OU O PODER DA MÚSICA

Por Gracilene Pinto

A noite estava amena naquela terça-feira, vinte e sete de outubro de 1965.

Os irmãos João e Manoel Pinto, primos da minha mãe por ser filhos de Mariana e Chico Pinto, de São Vicente Férrer, haviam embarcado cedo na lancha Proteção de São José, afim de ter o privilégio de escolher um bom local para armar suas redes brancas de fio tecido.

Havia três lanchas ancoradas no Porto de Rapôsa naquele dia: Fátima, Maria do Rosário e Proteção de São José. É provável que a escolha desta última haja sido influenciada pela devoção familiar ao santo que lhe emprestava o nome. Mas, também pode ter sido simplesmente porque com o grande fluxo de passageiros e cargas, a lotação das embarcações se completasse rapidamente, razão pela qual as lanchas quase sempre viajavam com excesso de carga.

As três lanchas zarparam juntas do Porto da Raposa com destino à Capital do estado, o que talvez fosse uma estratégia de autoproteção dos seus comandantes para enfrentar a aventuresca viagem com mais segurança, já que a perigosa travessia em mar aberto era tarefa para mestres experientes, e que, com a escuridão da noite, punha à prova até mesmo a coragem de quem já lhe conhecia os percalços, como escreveu Batista Azevedo, e, mais tarde, Raimundo Corrêa Cutrim em seu livro Perfil da Baixada Maranhense. Viajando próximas umas das outras, poderiam mais facilmente auxiliar-se em algum eventual problem. Mas, a Proteção de São José seguia serena, até onde se pode usar tal palavra para designar a movimentação de quem navega nas águas nada mansas do Golfão Maranhense no segundo semestre do ano.

Tendo em vista não ser a primeira vez que encaravam tal aventura, os irmãos João e Manoel Pinto estavam tranquilamente deitados em suas redes perfumadas de oriza e confortavelmente embrulhados nos alvos lençóis, desfrutando da boa música que tocava no rádio a pilhas da lancha. Com o balanço da maresia, terminaram por adormecer.

Porém, eis que inusitadamente próximo ao Porto do Itaqui, na altura de Tauá Redondo, já em plena baía de São Marcos, a lancha Proteção de São José chocou-se com os arrecifes de uma croa, e, em questão de minutos, ocorria a maior catástrofe marítima que até hoje teve por palco o Maranhão, com a embarcação partindo-se e ocasionando a morte de cerca de 270 pessoas, que poucos foram os sobreviventes, pois a tragédia ceifou a vida da maior parte dos passageiros e tripulantes da embarcação.

Quanto aos irmãos João e Manoel Pinto, tão confortáveis se achavam em suas redes macias, que não despertaram nem mesmo com os gritos e o vozerio do povo, grunhidos e cacarejos dos animais ou com o ensurdecedor barulho dos motores, ficando sepultados na Baía de São Marcos, pois seus corpos nunca foram encontrados.

Testemunhos dos poucos sobreviventes, dão conta de que, no exato momento do acidente, no rádio sintonizado com a Rádio Difusora do Maranhão tocava a magistral “Valsa da Meia Noite”. Aquela mesma música cuja autoria é atribuída por uns a Nullo Romani (que a gravou juntamente com seu conjunto) e por outros a Frank Amodio, sendo, tanto um como outro, dois ilustres desconhecidos.

Entre os poucos sobreviventes que tive conhecimento, estão Bijuca Figueiredo Marques (o Bijuca do São Francisco, que nadou do Boqueirão até o Cais da Sagração, em São Luís, onde chegou vivo, mas em estado tão lastimável, que sequer conseguia manter-se em pé); Pedrinho Duarte e sua esposa Dona Marinete (única mulher a se salvar), os quais perderam no sinistro sua primeira filha, de menos de dois meses; Pedro de Geraldo; Sandaia; Batista de Pacherá e Quidinho.

De algumas das vítimas, como os irmãos João e Manoel Pinto, Francisco Pires Corrêa, Bijuca do Goiabal e Zenaide Aranha, sequer seus corpos foram encontrados.

Em São João Batista, por iniciativa do então Vereador Zezi Serra, foi sancionada uma Lei Municipal que tornou o dia 27 de outubro, dia do naufrágio da lancha Proteção de São José, feriado municipal, em memória daqueles que sucumbiram nas águas da Baía de São Marcos.

Em São Vicente Férrer a “Valsa da Meia Noite” passou a ser considerada sinônimo de luto, tão grande é o poder da música que fica registrado como um verdadeiro marco em nosso espírito. E, a partir de então, Batista Souza, mais conhecido como Batista de Nhoí, proprietário do sistema de difusão sonora por autofalantes naquela cidade, enquanto viveu, antes de transmitir qualquer notícia fúnebre, sempre tocava a magistral Valsa da Meia Noite, honrando a memória, não só do falecido naquele momento, mas também dos conterrâneos vitimados na tragédia de 27 de outubro de 1965.

“DIÁLOGOS BAIXADEIROS – FALAS SOBRE A BAIXADA” É TEMA DE RODAS DE CONVERSA EM SÃO LUÍS

“DIÁLOGOS BAIXADEIROS – FALAS SOBRE A BAIXADA” É TEMA DE RODAS DE CONVERSA EM SÃO LUÍS

Vários membros do Fórum em Defesa da Baixada Maranhense têm sido convidados como palestrantes do grandioso evento intitulado “Diálogos Baixadeiros – Falas sobre a Baixada” promovido pelo Departamento do Curso de História da Universidade Federal do Maranhão (UFMA). O evento foi idealizado pelo mestre Manoel Barros, professor titular do mencionado curso, membro das academias de Anajatuba e São João Batista e grande expoente do Fórum da Baixada.

Diversos olhares, percepções, vivências e memórias marcam o evento “Diálogos Baixadeiros – Falas sobre a Baixada”, Projeto de Extensão do Departamento de História da Universidade Federal do Maranhão (UFMA) que ganhará nova edição em São Luís, a partir desta quinta-feira (14), das 14h às 17h30, com entrada gratuita.

Com o eixo central “Falas sobre a Baixada”, em cada um dos seis encontros, a segunda edição terá sempre quatro temas centrais, com convidados especiais, autoras e autores oriundos da Baixada. No primeiro encontro, os temas são: “A Baixada do Maranhão em serões e outras falas”, com Gracilente Pinto (de São Vicente Ferrer); “Vislumbres de Viana sob o olhar de Assis Galvão”, com Adalzira Galvão e Michela Galvão (de Viana); “Anajatuba e nossas esperanças”, com Mauro Rêgo (de Anajatuba); e “Linguajar típico da Baixada”, com Flávio Braga (de Peri Mirim).

Sob organização do professor Manoel de Jesus Barros Martins, do Departamento de História da UFMA, o evento conta com o apoio do Departamento de História, do Curso de História, do Centro de Ciências Humanas e do Centro Pedagógico Paulo Freire – local onde será realizado o evento, na sala 101, Asa Norte, a partir das 14h.

Para Manoel Martins, o evento é um importante espaço para que professores, alunos e o público em geral possa debater e conhecer mais sobre essa importante região do Maranhão.

“A Baixada conta com um quantitativo expressivo de autoras e autores cujas obras remetem ao entendimento de facetas muito caras à formação social maranhense, porém essa produção e seus autores nem sempre são reconhecidos”, afirma o professor.

“Diálogos Baixadeiros – Falas sobre a Baixada” será realizado em formato presencial, na UFMA. As Rodas de Conversa serão gravadas e disponibilizadas a seguir pelo canal oficial do evento no YouTube, pelo link: https://youtube.com/@BaixadadoMaranhao.

Histórico dos Diálogos Baixadeiros
A partir de maio deste ano, foram realizadas as primeiras Rodas de Conversa, no âmbito da disciplina “Baixada do Maranhão: trajetórias e perspectivas”, com o tema “Diálogos Baixadeiros”. Diferente da atual edição, que será realizado em seis datas, às quintas feiras, de 14.09 a 09.11, o evento de estreia foi realizado em cinco datas – nos dias 5, 12, 19 e 26 de maio e 2 de junho.
Os vídeos da primeira edição podem ser encontrados no YouTube, no canal @BaixadadoMaranhao. Para mais informações, entre em contato pelo e-mail baixadadoma@gmail.com.

O RIO SÓ QUER PASSAR

O RIO SÓ QUER PASSAR

Por Gracilene Pinto

       É triste e realmente de se lamentar a situação dos ribeirinhos que passam pela tribulação das enchentes. 

        De fato, isso ocorre de forma cíclica em todos os lugares onde moradias são erguidas às margens de rios e lagos. 

        Mas é um fato também que o próprio homem cria essa situação para si. 

        Todos sabem que na estação chuvosa os rios engrossam seu caudal. É o ciclo das águas, que faz parte da dinâmica da Natureza. 

         Sabem também que nos anos mais rigorosos a pancada de chuva é violenta. No Maranhão, às vezes quase diluviana. 

         Por tais razões, o leito dos rios não pode ser medido pelo que apresenta na estação seca. 

         Desta forma, quem constrói nas proximidades das margens durante a estação seca, fatalmente estará sujeito à invasão das águas nos períodos de chuvas copiosas,  porque invadiu uma área que pertence ao rio. Simples assim!

           O leito é o domicílio natural do rio, mesmo quando não o está ocupando. Tanto quanto ninguém deixa de ser proprietário da sua casa quando está fora dela.

            A Natureza exige respeito, mas o ser humano não considera isso. Então, nos períodos de maior intensidade de chuvas, quando se enchem as cabeceiras dos rios, a água desce com violência, também sem consideração pelo que está à frente. 

            É o ciclo natural das águas. É natureza cobrando o seu tributo, já que, verdadeiramente, foi ela a invadida em sua propriedade. O rio só quer passar!

            Eu só desejo que a misericórdia divina venha em socorro da insensatez humana e que se consiga socorrer aos atribulados sem vítimas e com o mínimo de prejuízo material.

O CICLO DAS ÁGUAS

O CICLO DAS ÁGUAS

Por Gracilene Pinto

Márcia Fernanda Gonçalves, geógrafa e ambientalista, professora da UFMA (filha da autora).

É triste e realmente de se lamentar a situação dos ribeirinhos que passam pela tribulação das enchentes.

De fato, isso ocorre de forma cíclica em todos os lugares onde moradias são erguidas às margens de rios e lagos.

Mas é um fato também que o próprio homem cria essa situação para si.

Todos sabem que na estação chuvosa os rios engrossam seu caudal. É o ciclo das águas, que faz parte da dinâmica da Natureza.

Sabem também que nos anos mais rigorosos a pancada de chuva é violenta. No Maranhão, às vezes quase diluviana.

Por tais razões, o leito dos rios não pode ser medido pelo que apresenta na estação seca.

Desta forma, quem constrói nas proximidades das margens durante a estação seca, fatalmente estará sujeito à invasão das águas nos períodos de chuvas copiosas, porque invadiu uma área que pertence ao rio. Simples assim!

O leito é o domicílio natural do rio, mesmo quando não o está ocupando. Tanto quanto ninguém deixa de ser proprietário da sua casa quando está fora dela.

A Natureza exige respeito, mas o ser humano não considera isso. Então, nos períodos de maior intensidade de chuvas, quando se enchem as cabeceiras dos rios, a água desce com violência, também sem consideração pelo que está à frente.

É o ciclo natural das águas. É natureza cobrando o seu tributo, já que, verdadeiramente, foi invadida em sua propriedade.

Eu só desejo que a misericórdia divina venha em socorro da insensatez humana, e que se consiga socorrer aos atribulados sem vítimas e com o mínimo de prejuízo material.

A EDUCAÇÃO LIBERTA E TRANSFORMA

Por Expedito Moraes

Dona Louedes, certa manhã, conversava com seus alunos, como sempre fazia.

Dizia ela que, no futuro, quando estivesse bem velhinha, teria muita dificuldade para subir aquela imensa ladeira da Rua da Glória, onde morava e fazia de sua casa uma pequena escola. Mas, que também tinha certeza, que num desses dias iria aparecer um de nós em um carrão e lhe dar uma carona.

Naqueles idos anos 60, sonhar em ter um carrão era simplesmente um sonho.

Alguém perguntou como isso seria possível, se todos ali eram pobres?

Ela, com muita sabedoria, como sempre, respondeu:
– Vocês estão aqui para aprender como podem ter sucesso na vida.

Vinte anos se passaram, D. Lourdes, aos 50 anos, se formou em Pedagogia, que até então era leiga. Passou em um concurso municipal e estava lecionando numa importante escola municipal.

Eu, que havia terminado recentemente minha graduação e já estava ocupando um importante cargo público, consegui a nomeação dela para o cargo de diretora daquela escola.

Cheguei de surpresa naquela mesma casa onde passei parte da minha infância aprendendo com o ato de nomeação na mão. Fui em meu carro, recentemente comprado, apanhá-la para levar para sua posse.

No caminho, morrendo de felicidade, ela me disse que jamais esperara que um dia um ex-aluno fizesse isso.

– Como assim? – respondi rindo:

 – A senhora pode não lembrar… mas, eu lembro bem, e repeti a frase que ouvira anos atrás. 

Mais tarde, na solenidade de posse, entre risos e lágrimas ela contou essa história. Dona LOUEDES ensinava VALORES.

(Expedito Moraes), fevereiro de 2023

PRIMEIRO CAUSO: APELIDOS QUE MATAM

PRIMEIRO CAUSO: APELIDOS QUE MATAM

Por Expedito Moraes

Lá prás bandas do Pulidoro, povoado fora da zona Urbana de Cachoeira, teve um fato acontecido assim:

Quem nos relata e espalha pelo mundo inteiro é o influente blogueiro Zé Minhoca. Porém, nessa época, apesar do avanço tecnológico extraterreno dos cachoeirenses, Zé Minhoca era chamado mesmo era de Linguarudo e Fuxiqueiro.

Pois bem, a notícia correu igual a Curacanga nos campos secos do verão ou a Pororoca em noite de lua cheia no leito raso do rio Pindaré.

Segundo o Linguarudo, Tonico Isca de Piaba, apelido que lhe foi dado na infância por ser o sujeito gordinho e batorezinho, era desaforado, não “injeitava” uma discussão e briga. Era metido a valente. Andava pelos campos a cavalo com um facão Colin maior do que ele do lado. Mas, se aparecesse um cabra pra lhe chamar pelo apelido… Ave Maria!… Tonico ficava doido. Se atirava do cavalo em baixo, já tirando o facão da bainha, fazia um “rapa pé”, e a molecada caía no mato.

Tonico ficava “bufando de raiva”. E foi numa dessas vezes que Tonico “dançou”.
Empolgado com tanta gente lhe ouvindo antes de começar a ladainha na casa de D. Hipólita, Zé Minhoca, com ar de apresentador da GLOBO, dizia que Tonico tinha se casado há pouco com Maroca, uma moça que “caiu na vida” após ter sido vista deitada e abraçada por trás de uma moita com um tal de “Porco D’dágua”, barqueiro que desembarcou no porto de Djalma Moreno para dançar no “arrasta pé” de Olegário.

Existe um “dito” popular naquelas bandas de que as mulheres dali não podem ver um embarcadiço de fora que ficam doidinhas da cabeça.

Ora, com o calor do belo corpo e dos rebolados de Maroca dançando “Pisa na Fulô”, suando tanto que o azeite de carrapato do cabelo escorria pela blusa e também pela camisa do barqueiro, o cabra ficou doido. E ela também. Saíram do salão pra mijar. Só que quem percebeu a fuga, para o azar deles, foi o Fuxiqueiro.

Não demorou “uma hora de relógio”, e só duas pessoas sabiam do acunticido – Deus e o mundo. A moça ficou tão “mal falada” que, depois disso, só quem a quis como esposa foi “Isca de Piaba”.

Mesmo assim, MAROCA pediu um juramento dele: – Tonico, tu pra mim é só TONICO, entendeu? No dia que um “filho de corno” lhe chamar desse seu apelido, tu vai me prometer que vai dar uma surra em quem quer que seja ele. Se tu não fizer isso, eu te largo.
Tonico, já totalmente “inrabichado” por ela, sacudiu com a cabeça e saiu sisudo e triste, lembrando de Ariston, cabra valente acostumado a gritar na beira do campo de bola o apelido de um outro sujeito brabo. Ariston levava sempre com ele um patacho, desse de roçar, que servia para cortar a carne do churrasco que ele fazia e, ao mesmo tempo, se proteger quando gritava o apelido: “Zé da Burra”.

Tonico já estava acostumado com os gritos de Ariston: “- segura essa bola “Isca de Piaba!”. Ficava desajeitado, isso ficava, mas também gostava, e muito, da feijoada que Ariston fazia e oferecia aos atletas.

Nesse dia, teve vontade de conversar com Ariston e lhe falar sobre a conversa. Depois, pensou que não ia adiantar. Ariston era gozador e a coisa podia até piorar.

Resolveu se aconselhar com Olímpio para lhe pedir que conversasse com Ariston. Mas, esse daí ainda era pior. De vez em quando, além de chamá-lo pelo apelido, ainda lhe tratava de coisa pior. Desistiu. Ocorre que, no sábado seguinte à conversa, Maroca fez um mocotó reforçado, com macaxeira, banana, tutano, e muito nervo. Só coisas que faziam mal pra Tonico.

Semanas antes, Tonico fora levado às pressas ao posto médico, quase enfartando. A pressão estava 22/8. O médico lhe aconselhou a se alimentar de coisas leves e a suspender o cigarro, a cachaça, e outras coisas:
– Mulher, tu te esqueceu do que o médico disse?! Essa comida não é muito pesada?
– Tonico, tu não vai jogar bola hoje? Isso tudo aí tu vai “disgastar” rapidinho.

Tonico até pensou que a mulher queria que ele morresse. Mas, terminou achando que ela estava era cuidando bem dele.
Só que o “Capeta é muleque”. E quando Tonico chegou na beira do campo, olha quem ele encontra: Olímpio e Ariston. Olímpio ainda fumando e tomando cachaça de Ipixuna. Os dois logo o cumprimentaram chamando pelo apelido.
Tonico pediu para falarem baixo. Disse que a mulher não gostava.
Piourou.
Olímpio lhe ofereceu um cigarro e uma talagada de cachaça.
O jogo ia começar.

Ariston lhe ofereceu um copo de cerveja. Tonico, ao que parece, se esqueceu do médico. Tomou tudo e fumou.
Botaram Tonico no ataque. O sujeito parecia Bimbinha. Baixinho, corria muito, driblava o time inteiro e gol… nadica de nada.
Maroca, resolveu visitar a tia que morava ao lado do campo.

No minuto que ela ia passando pelo campo, viu Tonico driblar um, dois… a defesa adversária toda. Até o goleiro. E chutou a bola…. pra fora.
Aí, a pessoal da barreira inteira gritou “VAI TE LASCAR, ISCA DE PIABA!”.
Maroca, vermelha igual a pescoço de galo carioca, tentou se esconder. Não adiantou. Ariston já tinha lhe olhado e, virando pra ela, gritou: “Senhora, este seu Isca de Piaba não serve nem pra fazer gol, imagina pra lhe fazer um filho!”
Nessa hora, o sangue de Tonico explodiu no corpo inteiro, subiu à cabeça, estancou pelo coração, e o pulso latejava igual venta de cavalo cansado.

Maroca, sem poder falar, aponta pra ele e faz um sinal de quem corta alguma coisa com um patacho e, lívida, gritou pro marido: “Vou voltar e arrumar tua trouxa”.
Tonico não ouviu mais nada, teve um ataque de coração fulminante.

Segundo Zé Minhoca, os culpados por Tonico ter “batido as botas” e se mudado para a “cidade de pé junto”, são: Maroca, Ariston e Olímpio.
O pobre nem teve tempo de pegar sua trouxa, mas Maroca preparou uma bem bonitinha, com tudo dele, e jogou dentro da cova.

Expedito Moraes, 11.02.23

O MARANHÃO REAL E O VIRTUAL

O MARANHÃO REAL E O VIRTUAL

Por Expedito Moraes

O Estado do Maranhão já era há 8 anos, o penúltimo estado mais pobre do Brasil, todos os governantes juraram, nos seus discursos de posse, tirar o estado dessa terrível situação. Podem até terem tido essa intenção, entretanto, o resultado tem sido desastroso. Atualmente, batemos recorde em todos os índices negativos, mantendo-nos em estado de pobreza e miséria, nossa Baixada no bolo.

Nas beiradas dos campos, nas capoeiras, nas beiras do rios, no meio da seca e dos alagados; crianças dormem com fome, sofrem com ataques de verminose, com corpos esquálidos, desnutridos, sem assistência médica onde, ainda, a ambulância é uma rede velha pendurada num pau carregada pelos caminhos de lama ou torrão. Ao chegar ao hospital na sede do município é colocado numa ambulância para transportá-lo pelas estradas esburacadas e pelo Ferry, até o Socorrão. Chega vivo, porém, pior do que estava.

E a Educação? Bem, neste item continuamos sendo os piores. Razão, pela qual, fica impossível superar a barreira da pobreza.

Somos impotentes para resolver isto? Acredito que não. Falta de recurso não é. As transferências federais e estaduais para o Estado e os municípios nunca deixaram de chegar. Essas transferências são constitucionais, em hipótese alguma um governante pode deixar de cumprir. O Maranhão é um dos estados que depende destas transferências; imaginem nossos municípios. 

O Maranhão tem o maior índice de famílias beneficiadas pelo Auxílio Brasil (Bolsa Família), são 1,22 milhão de famílias contempladas, um investimento federal de R$ 743,3 milhões. Entre os lares beneficiados pelo programa permanente de transferência de renda do Ministério da Cidadania, mais de 1 milhão, ou 82,5%, têm uma mulher como responsável financeira. Levando em consideração 5 pessoas por família são mais de 5 milhões de pessoas beneficiadas. Ou seja, aproximadamente, 70% da população. Na capital São Luís, 123,7 mil famílias são beneficiadas, fruto de um investimento de R$ 74,4 milhões.

Para se ter uma ideia, em boa parte dos municípios do Estado, principalmente os da Baixada o volume de recursos proveniente desta transferência são maiores do que o FPM (Fundo de Participação dos Municípios).

O paradoxo é que estes recursos não ficam nos municípios e nem no Estado.  

O Desafio é transformar o virtual em real. No virtual tá tudo muito lindo, mas o real é assustador. Vamos à luta!

Expedito Moraes, fevereiro/2023

Eduardo Castelo Branco, um empreendedor admirável

Eduardo Castelo Branco, um empreendedor admirável

Por Expedito Moraes

Eduardo Castelo Branco, empreendedor, ferrenho defensor do desenvolvimento da Baixada e em especial a sua terra – Anajatuba, onde tem vários investimentos.

Nos primeiros anos deste século conseguiu com o Governo do Estado do Maranhão, à época, José Reinaldo Tavares, por meio do deputado João Evangelista, ambos seus amigos pessoais, recursos para uma das obras de suma importância para aquele município, que foi a dragagem do igarapé de Troitá gerando toneladas de pescado semanalmente. Dessa experiência surgiu a ideia de construir as valas (açudes de 12m x 400 m) nos campos para criação de peixes e outros animais, bem como cultivos de modo integrado e sustentável.

Em 2015, o Fórum em Defesa da Baixada Maranhense (FDBM) visitou os empreendimentos. Desse empreendimento tem-se o cultivo da Manga Gigante.

Sempre esteve envolvido com os principais projetos estruturantes da Baixada, por exemplo: o Diques da Baixada e a ponte que ligaria Anajatuba a São João Batista, e outros.

Articulado politicamente e com bom trânsito na administração atual, reuniram-se, neste sábado (28/01/2023), em sua casa em São Luís, várias autoridades do governo atual e de outros dos segmentos de empreendedorismo para discutirem assuntos pertinente à possibilidade de investimentos no Maranhão e, consequentemente, para o desenvolvimento da Baixada Maranhense.

O Dr. Márcio Vaz fez uma apresentação discorrendo sobre a necessidade da construção dos Diques e outras questões relacionadas com ao meio ambiente. Fui convidado, mas, por motivo de força maior não pude comparecer.

O debate foi excelente, disse-me Eduardo, bem como me afirmou que haverá nova reunião.

Vejam os presentes:


Da esquerda para direita.

Secretário adjunto da indústria e Comércio, Ubiratan. Secretário Cassiano , sec. Agricultura José Antônio, consultor Márcio Vaz , Pereira e Bergman , superintendentes na Sagrima , Max diretor CIM (Consórcio dos Municípios do Vale), Secretário de Pesca , Patrick.

TAPETE VERDE NO RIO

TAPETE VERDE NO RIO

Por Expedito Moraes

Amanhece chuviscando grosso. Durante a noite choveu tanto que alagou tudo. Nos campos, o capim ficou debaixo d’água. As águas escorrem pelos córregos até os igarapés, a correnteza é grande e leva tudo que encontra pela frente; animal afogado, galhos de árvores, estercos, troncos secos, derruba barreiras, arrasta tudo e despeja nos lagos e rios, assoreando os seus leitos.

Depois da tempestade, ouve-se o troar das águas despejadas pelos igarapés no rio. Nessa brenha mistura-se uma incômoda sinfonia executada por sapinhos, gias e cururus. Passam a noite nessa festa que só acaba com o raiar do sol. Acordo zonzo. Quase não dormi com toda essa barafunda. Ainda mais que, a embira que amarrava a meaçaba da porta da sala arrebentou com a força da trovoada e invadiu a sala, molhou a minha rede armada de um esteio à grade do meio me obrigando a desarmá-la e procurar outro lugar que não tivesse goteira.

Desço a escada para o terreiro e me deparo com um dos mais belos cenários do Rio Pindaré neste período. Estava coberto de um lindo tapete verde de uma margem a outra. Era início de janeiro.

O CAPITÓLIO TUPINIQUIM

O CAPITÓLIO TUPINIQUIM

Por Joãozinho Ribeiro*

A quem interessar possa / A história embora seja / Coisa escrita no presente / Sempre vasculha o passado / E traça o futuro da gente.

Quando afirmo que o futuro é pra ontem, é porque pelo passado recente nem teríamos direito ao amanhã. O tempo que se nos apresenta é de reconstrução e construção das relações humanas. A mudança é um processo permanente. A única coisa perene em todo o sempre do Universo em desalinho.

Implacável e contínua, a marcha dos acontecimentos convoca os sujeitos e os objetos da história para os atos, cujas digitais ficarão para os anais dos feitos das suas (des)humanidades. Uns cometerão canções e versos; outros, crimes e genocídios, que serão lembrados pelas vindouras gerações. A História continuará sendo o tribunal do mundo. Dela, não escaparão os ratos, ainda que abandonem as embarcações e retornem aos esgotos, ou que intentem dissimulados discursos, com auras de um intelectualismo reacionário e defensor do silêncio dos culpados.

Uma linha no horizonte / Um ponto no firmamento / A humanidade do Planeta / Despenca a todo momento.

 Devemos ser, cada vez mais, criteriosos e seletivos para escolher os confrontos e conflitos pelos quais valha a pena lutar. A nossa passagem por esta estação terrena é breve e única. Precisamos valorizar as coisas aparentemente pequenas e insignificantes, que valem e justificam o milagre da existência.

A paz e o reencantamento do mundo retornam como bandeiras necessárias para serem içadas nos pavilhões das nossas esperanças. Sem a pieguice contemplativa das omissões, nem o açodamento das ações destemperadas, inoculadas nos discursos de ódio e na pregação da violência, como meios e fins de resolução da peleja da sobrevivência.

Quem sabe, o recado de Modigliani ainda esteja bastante vivo e adequado para o momento: “O dever de todo artista é salvar o sonho!”. Quem se habilita e se credencia para esta tarefa coletiva e urgente? Qual parte caberá aos ditos intelectuais e acadêmicos nesta contenda de enfrentamento da barbárie e do obscurantismo?

Tormenta, degredo, tragédia / Silêncio que se alimenta / Do roteiro da comédia / Desumana e tão sangrenta.

 Trago comigo algumas respostas, sem nem mesmo conseguir formular as perguntas correlatas. Talvez estas nem existam, porém é importante não negar a possibilidade de suas existências, assim como se dizia das bruxas, em tempos de cumplicidades e pensamentos medievalescos, para justificar a inquisição e a queima dos corpos das mulheres, condenadas sem o mínimo direito de presunção de suas inocências.

Labaredas da vida / Acendendo as razões / E o Planeta girando / Em muitas revoluções.

Quem sabe precisemos retornar ao dilema de Galileu, diante do Tribunal do Santo Ofício, com todas as controvérsias das narrativas, e afirmar com todas as letras: “E pur si mueve!”

Navegar é preciso, Pessoa! Mais do que antes, por mares nunca e sempre navegados! Ou não! Valendo o risco que toda descoberta oferece! Os rios nos cios, as águas vão rolar, apesar daqueles contrários aos seus movimentos! A Terra gira, o mundo gira, o planeta respira, a natureza conspira! A poesia inspira!

A barca da existência / Navega sua leveza / Flertando com a natureza / Nas águas da paciência / Mergulho na finitude / Desejo e delicadeza / Deságuam na correnteza / Da fonte da juventude.

Hora da arte mostrar que existe porque já não basta a vida; e que esta, sem dignidade e respeito, não merece assim ser denominada. Vida e sonhos não são excludentes. Não precisamos importar caricaturas deformadas de atos que glorificam a barbárie e a incivilidade, com seus negacionismos baratos e dantescos. Prefiro finalizar o presente com uma preciosa exaltação da existência, do escritor angolano que nos visita, José Eduardo Agualusa: “A vida não é menos incoerente do que os sonhos; é apenas mais insistente.”

(*) Joãozinho Ribeiro (poeta e compositor, membro da Academia Ludovicense de Letras) e coator do livro Ecos da Baixada, com o artigo, “Ana, de Peri-Mirim para o mundo“.