Há sonhos que serão melhores se sonhados coletivamente

Há sonhos que serão melhores se sonhados coletivamente
Drs. Gusmão & Lemos

Idos de 2002, lá se foram dezesseis anos, eu estava em minha casa em Fortaleza quando um grupo de seis (6) prefeitos dos municípios da região que sofre influencia do Rio Munim entrou em contato comigo. Queriam que eu lhes fizesse um esboço do projeto que eu havia desenhado para recompor a mata ciliar daquele Rio, já então bastante deteriorada, com altura da lâmina d’água estreita em várias partes do seu percurso. Sem falar no assoreamento que era visível em quase todo o seu curso.

Eu imaginei que, uma vez conhecendo o projeto, haveria interesse em o executarmos juntos. Encontrei-os em Chapadinha, expus-lhes o projeto. Houve um debate interessante. Voltei para Fortaleza na expectativa de que os havia convencido, ainda que achasse estranho as Suas Excelências se interessarem por algo assim.

As minhas suspeitas ficaram confirmadas porque eles me deram um prazo para enviar uma resposta acerca da realização daquele trabalho. Dezesseis anos depois a tal resposta ainda não chegou. Devem ser as dificuldades dos correios… Acredito eu!

Mas aquelas ideias não me saiam da cabeça. O Itapecuru, seguramente um dos nossos Rios mais importantes, porque inclusive é o responsável pelo abastecimento de água de boa parte dos domicílios da nossa capital, padece dos mesmos problemas e também emite sinais evidentes de que precisa ser socorrido.

Como Secretário de Agricultura, em 2006, eu convoquei uma equipe de três pessoas: uma ex-orientada, um ex-colega de Liceu e outro Professor da UEMA para desenharmos um projeto piloto-experimental para recompor a mata ciliar num pequeno trecho do Itapecuru. Selecionamos um percurso que passa na cidade de Codó. Conseguimos recursos financeiros para realizar o trabalho, espécie de pesquisa-ação, em seis (6) hectares. Três hectares em cada margem.

Buscamos apoio da ALUMAR que prontamente nos atendeu e nos forneceu 2000 mudas de espécies arbóreas nativas, algumas já em processo de extinção. Recorremos à Secretaria de Educação do Município de Codó, para nos ajudar no projeto, disponibilizando espaço para eu convidar e falar com os (as) diretores (as) das escolas municipais, com as professoras e, com as crianças e adolescentes.

Havia uma ONG envolvida com a Igreja Católica que atuava naquela área. Era liderada por uma Agrônoma muito competente de origem Alemã, a quem recorremos para nos ajudar. Essa senhora fez uma casa precária, dentro da área do experimento, e se mudou pra lá. Ela trabalhava com adolescentes. Passamos-lhe a responsabilidade de viabilizar as restantes 1000 mudas que havíamos projetado para o projeto experimental.

O trabalho foi evoluindo num crescendo. As populações ribeirinhas se engajaram. Os dirigentes das escolas, professores, as crianças, adolescentes, também. Nossos técnicos da Secretaria se empolgaram. O resultado é que todos se apropriaram do projeto. O então Governador José Reinaldo ficou entusiasmado quando no dia 5 de junho de 2006, numa tarde de muito calor, sobretudo humano, uma multidão se aglomerou para testemunhar os plantios das primeiras mudas. Ao final do mandato do Governador plantamos 6000 mudas, em 12 hectares, com os mesmos recursos.

Voltei a rememorar aos meus leitores acerca daquele projeto por duas razões: Por ter sido uma da melhores ações profissionais e de ser humano que eu fiz nesta minha breve passagem por este Belo Planeta Azul, e porque estamos nas vésperas de vivenciar momentos tão intensos com aqueles de 12 anos atrás.

Eu imaginei que poderia buscar apoio no povoado em que eu nasci, Paricatiua, no município de Bequimão para plantar em torno de 100 a 200 mudas de Paricás, para que o povoado possa fazer jus ao nome que lhe foi dado.

Forense Ana Cléres

Comecei conversando com lideranças do povoado, que incluiu a Diretora da escola municipal. Logo acharam a ideia interessante e se colocaram à disposição para ajudar. Mais recentemente a líder do Fórum da Baixada, entidade criada para cuidar de temas pertinentes àquela parte bela, mas carente parte do Maranhão, que me conhecia pela leitura dos meus textos neste Jornal, soube do projeto e me procurou em Fortaleza perguntando o que a entidade poderia fazer para ajudar. Eu devolvi para ela a pergunta: “No que vocês podem nos ajudar?” Ela prontamente entrou em campo, mobilizou outras pessoas do Fórum e foram em buscas das sementes nativas (no projeto inicial eu pensei em comprar as mudas, tanto que cheguei a fazer levantamento de preços).

 Dr. Gusmão

Um colega, Professor da UEMA, se prontificou para prover o viveiro aonde germinariam as sementes coletadas pelos colegas do Fórum da Baixada. As sementes germinaram com menos de dez dias. Agora, no apogeu do seu primeiro mês de vida estão com aproximadamente 20 centímetros de altura, em média. Lindas!

Na próxima segunda feira (16/07/2018) estaremos numa expedição que trará de Paricatiua 25 crianças das escolas municipais, professores, gente da comunidade para, num ato solene as 10:00 da manhã naquele dia, todos conhecerem os “paricazinhos”.

O projeto “Paricás em Paricatiua: um sonho possível”, foi apropriado por uma quantidade enorme de pessoas. Em janeiro de 2019 realizaremos o plantio das mudas no “Bosque de Paricás em Paricatiua”. Todos os meus leitores estão convidados para presenciar um sonho que agora é coletivo. E que pode “transbordar” para outras áreas.

* José Lemos.

Paricás em Paricatiua: um sonho possível

O Conselho Regional de Economia do Maranhão – CORECON publicou em 2014 um livro sob titulo: “Ensaios sobre a Economia Maranhense”. O livro foi organizado pelo Professor José Lucio Alves Silveira e consta de seis capítulos. Uma coletânea de seis artigos escritos por autores maranhenses.

O CORECON-MA me convidou para escrever um dos capítulos daquela obra. Escrevi um texto de 79 páginas em que discorro acerca das dificuldades sociais e econômicas que insistem em fazer parte do nosso cotidiano, a despeito da nossa farta disponibilidade de recursos naturais. O título do meu texto é: “Maranhão: Estado (ainda) rico em riquezas naturais mas de população empobrecida”.
Começo-o escrevendo: “Com o potencial, e com a vocação agrícola que possui, o Maranhão poderia se constituir em um dos estados brasileiros maiores produtores de alimentos e de matérias primas de origem vegetal e animal.”

E sigo: “Há no Maranhão uma diversidade que o diferencia dos demais estados brasileiros, em que praticamente se encontram todos os ecossistemas que prevalecem no Brasil…”

Os leitores deste texto viram que no titulo do Capítulo do livro do CORECON eu coloco o advérbio “ainda” na frente de “rico em recursos naturais”. Este é um fato. Na semana passada eu discorri nesta coluna acerca da devastação das palmeiras de babaçu por agricultores de diferentes portes e por variadas motivações. Naquele texto eu falei de um trabalho experimental que durou quase dez anos que eu tive o privilégio de coordenar que está agora conseguindo frear um pouco a devastação dessa palmeira que é praticamente um dos nossos símbolos e que merecia ser um dos nossos orgulhos de maranhenses. Provavelmente o nosso poeta maior, Gonçalves Dias, se reportava a ela nos versos imortalizados “minha terra tem palmeiras/ onde canta o sabiá…”

Nessa saga devastadora muitas espécies vegetais maranhenses desapareceram, ou estão em vias de desaparecer. Isso pode ser detectado inclusive nos nomes de alguns municípios maranhenses.

Bacabeira, cujo fruto se chama Bacaba, é uma palmeira do mesmo gênero (Euterpe) da Juçareira que produz Juçara (Açaí, fora da nossa terra). O suco da Bacaba é, para o meu gosto, tão ou mais saboroso do que o da Juçara. São espécies diferentes. A Juçareira se desenvolve em touceiras, ou com filhações na mesma base radicular. A Bacabeira é como o babaçu: palmeira única.

Pois bem, tem um município maranhense de nome Bacabeira. Nas minhas andanças pelo município fazendo trabalhos científicos chamou-me atenção a dificuldade em encontrar exemplares da palmeira. Supõe-se que o nome do município não foi dado por acaso. Deve ter havido no passado muitas Bacabeiras por lá. A Bacabeira tem crescimento lento. O palmito das palmeiras é saborosíssimo. Talvez essa combinação esteja contribuindo para o desaparecimento da espécie.

Mirim é uma árvore que produz madeira de lei de excelente qualidade, sobretudo para a fabricação de embarcações, como se depreende de dois trabalhos de Mestrado que eu orientei na UEMA. Essa árvore também empresta nome a um município maranhense: Mirinzal (lugar rico em Mirim). Mas tentem encontrar árvores de Mirim na parte leste do estado nas vizinhanças do município, onde seria o seu provável habitat no estado. Caso encontrem alguma, levantem as mãos aos céus.

Axixá, também é árvore que empresta o nome a um dos municípios mais carentes do nosso estado. Quando eu fui Secretário de Agricultura, um dos projetos que eu desenvolvi com a minha equipe foi recompor as margens do Rio Itapecuru. Procuramos sementes e mudas de Axixá para fazer isso. Conseguimos algumas. Mas também é espécie em extinção. E não tem árvores de Axixá no município de Axixá.

 Plantio de Paricás no Município de Governador Nunes Freire

Paricá é uma arvore da família das leguminosas (acácias, algarobas, sabiás, flamboyants…). Empresta o nome ao povoado em que eu nasci no também carente município de Bequimão: Paricatiua (local abundante em Paricás seria o significado). Procuramos no povoado um exemplar da árvore e não existe, nem pra remédio, como diria a minha mãe, Dona Amélia, do alto da sua sabedoria. Provavelmente a devastação dos Paricás na minha terra tenha se dado para a fabricação de casas de taipa, embarcações, ou mesmo para serem vendidos como madeiras de lei, dada a sua elevada qualidade. Ainda vou fazer uma pesquisa sobre isso.

 Sementes de Paricás entregues na UEMA ao Dr. Gusmão.

Por isso criamos um projeto “Paricás em Paricatiua: Um sonho possível”. Conseguimos sementes das árvores. Um colega Agrônomo, Professor da UEMA, fez um viveiro nessa Universidade e plantou as sementes no dia 5 deste mês (dia do meio ambiente). As mudinhas estão se desenvolvendo bem. Agora no dia 16 de julho vamos numa expedição que inclui crianças das Escolas municipais de Paricatiua, pessoas sonhadoras como eu conhecer o viveiro.

      Plantio de Paricás em Viveiro da UEMA

Em janeiro, quando começarem as chuvas plantaremos um bosque de Paricás em Paricatiua. Um sonho que queremos acordar vendo concretizado. Agradeço desde já a todos que estão ajudando nesta empreitada. Paricás em Paricatiua: Tudo a ver. E, quem viver, verá!

*José Lemos.