Por Expedito Moraes
Dona Louedes, certa manhã, conversava com seus alunos, como sempre fazia.
Dizia ela que, no futuro, quando estivesse bem velhinha, teria muita dificuldade para subir aquela imensa ladeira da Rua da Glória, onde morava e fazia de sua casa uma pequena escola. Mas, que também tinha certeza, que num desses dias iria aparecer um de nós em um carrão e lhe dar uma carona.
Naqueles idos anos 60, sonhar em ter um carrão era simplesmente um sonho.
Alguém perguntou como isso seria possível, se todos ali eram pobres?
Ela, com muita sabedoria, como sempre, respondeu:
– Vocês estão aqui para aprender como podem ter sucesso na vida.
Vinte anos se passaram, D. Lourdes, aos 50 anos, se formou em Pedagogia, que até então era leiga. Passou em um concurso municipal e estava lecionando numa importante escola municipal.
Eu, que havia terminado recentemente minha graduação e já estava ocupando um importante cargo público, consegui a nomeação dela para o cargo de diretora daquela escola.
Cheguei de surpresa naquela mesma casa onde passei parte da minha infância aprendendo com o ato de nomeação na mão. Fui em meu carro, recentemente comprado, apanhá-la para levar para sua posse.
No caminho, morrendo de felicidade, ela me disse que jamais esperara que um dia um ex-aluno fizesse isso.
– Como assim? – respondi rindo:
– A senhora pode não lembrar… mas, eu lembro bem, e repeti a frase que ouvira anos atrás.
Mais tarde, na solenidade de posse, entre risos e lágrimas ela contou essa história. Dona LOUEDES ensinava VALORES.
(Expedito Moraes), fevereiro de 2023