Para onde vão os desempregados?

Para onde vão os desempregados?

Lourival Serejo

A matemática e a estatística têm sido aliadas dos estudos sociais por alertarem para situações nem sempre percebidas pela sociedade e pelos governantes. Nenhum gestor responsável, hoje, pode ignorar a avaliação dos números, principalmente se exerce um cargo político.

Esta crônica se vale da comparação de números para acionar o botão de alarme da questão do desemprego.

Nosso Tribunal de Justiça vai realizar concurso para preenchimento de 63 vagas de servidores. Para esse número irrisório de lugares, inscreveram-se 98 mil candidatos. Como milhares não pagaram as inscrições, o número ficou reduzido para 65 mil. Serão, portanto, 65 mil candidatos, concorrendo por 63 vagas, respeita- das as respectivas divisões por cargos. Antes, os concursos eram locais ou, no máximo, regionais. Hoje, não, são nacionais. Inscrevem-se candidatos de todos os rincões do país.

O que significam esses números?

Não há maior alarme social do que esse para alertar os governantes sobre o índice de desemprego no Brasil e o perigo que esse problema representa para a estabilidade social e econômica da sociedade.

Pressionados pelo desemprego, os jovens tendem a buscar qualquer tipo de alternativa para superarem a situação em que se encontram. Dentre essas opções, surge o crime, de braços abertos para acolhê-los.

Criou-se uma Força Nacional para combater a violência; os Secretário de Segurança reúnem-se constantemente para discutirem políticas de repressão ao crime; o Ministério da Justiça oferece apoio aos estados nessas ações e, agora, está pedindo apoio econômico da Fiesp e de bancos oficiais para essas medidas; a imprensa denuncia diariamente atos de violência praticados em todos os cantos do país.

E para combater o desemprego, o que se anda fazendo? Desemprego também é violência. Violência contra a dignidade do cidadão, contra seu direito ao trabalho. Já calcularam as situações de jovens desempregados sem celulares, sem roupas, sem tênis, sem poderem ir a uma festa, sem poderem beber uma cerveja nos finais de semana, sem poderem ir a um estádio de futebol, sem nada, sem nada. Alguns mais desesperados circulam pelas ruas como zumbis.

A cada progresso da inteligência artificial, o desemprego tende a aumentar. Essa proporção cruel vai piorar as coisas. Por mais que se evite assumir uma postura negativa, esses números aqui expostos confirmam o aspecto – ou espectro? – alarmante da situação.

O desemprego, que é um problema político, pode tornar-se um caso de polícia, uma vez que o destino de muitos jovens, principalmente os mais pobres, é acabar, mais cedo ou mais tarde, numa prisão qualquer, acusados da prática de algum crime, levados pelo ócio ou pelo desespero.

Lembrem-se daquele político do Império: “Façamos a revolução antes que o povo a faça?” Já imaginaram essa massa de desempregados ocupando as ruas como em 2013? Será que levarão flores nas mãos?

Os números desproporcionais do concurso do Tribunal de Justiça ex- põem uma das causas mais imediatas da criminalidade: o desemprego. Será preciso mais evidência para deduzir- se que é a clientela de desempregados que aumenta as fileiras do crime?

Quisera estar errado, como se estivesse pregando profecias de Cassandra, ao pintar esse quadro negro do futuro. Mas o problema do desemprego não está sendo levado a sério no Brasil. Se os líderes políticos tivessem mais compromisso com a República, não estariam dormindo sossegados.

Artigo publicado no Jornal O Imparcial do dia 26/09/2019.

Lourival de Jesus Serejo Sousa é natural de Viana, membro da Academia Vianense de Letras . Formou-se em Direito, em 1976, mais detalhes em http://www.academiamaranhense.org.br/lourival-de-jesus-serejo-sousa/