Paricás em Paricatiua: um sonho possível

O Conselho Regional de Economia do Maranhão – CORECON publicou em 2014 um livro sob titulo: “Ensaios sobre a Economia Maranhense”. O livro foi organizado pelo Professor José Lucio Alves Silveira e consta de seis capítulos. Uma coletânea de seis artigos escritos por autores maranhenses.

O CORECON-MA me convidou para escrever um dos capítulos daquela obra. Escrevi um texto de 79 páginas em que discorro acerca das dificuldades sociais e econômicas que insistem em fazer parte do nosso cotidiano, a despeito da nossa farta disponibilidade de recursos naturais. O título do meu texto é: “Maranhão: Estado (ainda) rico em riquezas naturais mas de população empobrecida”.
Começo-o escrevendo: “Com o potencial, e com a vocação agrícola que possui, o Maranhão poderia se constituir em um dos estados brasileiros maiores produtores de alimentos e de matérias primas de origem vegetal e animal.”

E sigo: “Há no Maranhão uma diversidade que o diferencia dos demais estados brasileiros, em que praticamente se encontram todos os ecossistemas que prevalecem no Brasil…”

Os leitores deste texto viram que no titulo do Capítulo do livro do CORECON eu coloco o advérbio “ainda” na frente de “rico em recursos naturais”. Este é um fato. Na semana passada eu discorri nesta coluna acerca da devastação das palmeiras de babaçu por agricultores de diferentes portes e por variadas motivações. Naquele texto eu falei de um trabalho experimental que durou quase dez anos que eu tive o privilégio de coordenar que está agora conseguindo frear um pouco a devastação dessa palmeira que é praticamente um dos nossos símbolos e que merecia ser um dos nossos orgulhos de maranhenses. Provavelmente o nosso poeta maior, Gonçalves Dias, se reportava a ela nos versos imortalizados “minha terra tem palmeiras/ onde canta o sabiá…”

Nessa saga devastadora muitas espécies vegetais maranhenses desapareceram, ou estão em vias de desaparecer. Isso pode ser detectado inclusive nos nomes de alguns municípios maranhenses.

Bacabeira, cujo fruto se chama Bacaba, é uma palmeira do mesmo gênero (Euterpe) da Juçareira que produz Juçara (Açaí, fora da nossa terra). O suco da Bacaba é, para o meu gosto, tão ou mais saboroso do que o da Juçara. São espécies diferentes. A Juçareira se desenvolve em touceiras, ou com filhações na mesma base radicular. A Bacabeira é como o babaçu: palmeira única.

Pois bem, tem um município maranhense de nome Bacabeira. Nas minhas andanças pelo município fazendo trabalhos científicos chamou-me atenção a dificuldade em encontrar exemplares da palmeira. Supõe-se que o nome do município não foi dado por acaso. Deve ter havido no passado muitas Bacabeiras por lá. A Bacabeira tem crescimento lento. O palmito das palmeiras é saborosíssimo. Talvez essa combinação esteja contribuindo para o desaparecimento da espécie.

Mirim é uma árvore que produz madeira de lei de excelente qualidade, sobretudo para a fabricação de embarcações, como se depreende de dois trabalhos de Mestrado que eu orientei na UEMA. Essa árvore também empresta nome a um município maranhense: Mirinzal (lugar rico em Mirim). Mas tentem encontrar árvores de Mirim na parte leste do estado nas vizinhanças do município, onde seria o seu provável habitat no estado. Caso encontrem alguma, levantem as mãos aos céus.

Axixá, também é árvore que empresta o nome a um dos municípios mais carentes do nosso estado. Quando eu fui Secretário de Agricultura, um dos projetos que eu desenvolvi com a minha equipe foi recompor as margens do Rio Itapecuru. Procuramos sementes e mudas de Axixá para fazer isso. Conseguimos algumas. Mas também é espécie em extinção. E não tem árvores de Axixá no município de Axixá.

 Plantio de Paricás no Município de Governador Nunes Freire

Paricá é uma arvore da família das leguminosas (acácias, algarobas, sabiás, flamboyants…). Empresta o nome ao povoado em que eu nasci no também carente município de Bequimão: Paricatiua (local abundante em Paricás seria o significado). Procuramos no povoado um exemplar da árvore e não existe, nem pra remédio, como diria a minha mãe, Dona Amélia, do alto da sua sabedoria. Provavelmente a devastação dos Paricás na minha terra tenha se dado para a fabricação de casas de taipa, embarcações, ou mesmo para serem vendidos como madeiras de lei, dada a sua elevada qualidade. Ainda vou fazer uma pesquisa sobre isso.

 Sementes de Paricás entregues na UEMA ao Dr. Gusmão.

Por isso criamos um projeto “Paricás em Paricatiua: Um sonho possível”. Conseguimos sementes das árvores. Um colega Agrônomo, Professor da UEMA, fez um viveiro nessa Universidade e plantou as sementes no dia 5 deste mês (dia do meio ambiente). As mudinhas estão se desenvolvendo bem. Agora no dia 16 de julho vamos numa expedição que inclui crianças das Escolas municipais de Paricatiua, pessoas sonhadoras como eu conhecer o viveiro.

      Plantio de Paricás em Viveiro da UEMA

Em janeiro, quando começarem as chuvas plantaremos um bosque de Paricás em Paricatiua. Um sonho que queremos acordar vendo concretizado. Agradeço desde já a todos que estão ajudando nesta empreitada. Paricás em Paricatiua: Tudo a ver. E, quem viver, verá!

*José Lemos.