Conhecendo a Baixada Maranhense

A região é uma das mais ricas do Maranhão em diversidade de vegetação e fauna, mas sofre com os problemas de desenvolvimento.

Para os maranhenses, o termo Baixada é bastante conhecido e muito utilizado principalmente pelas pessoas provenientes desta região e espalhadas pelo restante do estado. Mas o que é realmente a Baixada Maranhense e o que ela representa para o Maranhão? A Baixada Maranhense localiza-se no extremo norte do estado do Maranhão, abrange 21 municípios e tem 1.775.035,6 hectares de extensão. Pinheiro, com uma população de 78 mil pessoas, é considerado o município mais populoso entre os que integram esta região.

É composta por 21 municípios – Anajatuba, Arari, Bela Vista do Maranhão, Cajari, Conceição do La- go-Açu, Igarapé do Meio, Matinha, Monção, Olinda Nova do Maranhão, Palmeirândia, Pedro do Rosário, Penalva, Peri-mirim, Pinheiro, Presidente Sarney, Santa Helena, São Bento, São João Batista, São Vicente Férrer, Viana e Vitória do Mearim.

Precisa-se de funcionários

Autora  Ana Creusa

Ao completarmos 18 anos, eu e meus irmãos, costumávamos andar com uma pasta, contendo nossos documentos pessoais e um curriculum vitae, para facilitar a procura de empregos.

Atualmente os currículos são enxutos, sendo desaconselhável anexação de documentos. Porém, naquela época, exigia-se cópia de documentos pessoais e dos diplomas mencionados. Com isso, um bom currículo costumava ser volumoso.

Além do imprescindível curso de datilografia, fiz vários cursos no SENAC (Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial) e já havia concluído o segundo grau, de forma que estava pronta para conseguir um emprego, enquanto esperava passar em um concurso público.

Nas costumeiras viagens de ônibus coletivo, não raro avistava uma fila, descia do ônibus, para checar se era “fila de emprego”.

Um dia, já voltando para casa, passando pelo bairro Canto da Fabril em São Luís, eu e minha irmã, Maria do Nascimento, avistamos uma placa em que lemos: PRECISA-SE DE FUNCIONÁRIOS.

Descemos do ônibus para tentar concorrer a uma vaga. Tratava-se do prédio do Ministério da Fazenda em construção.

Fomos recebidas por umas pessoas que trabalhavam na obra. Alguém foi chamar o chefe, que era um homem alto, magro, louro de olhos azuis, que disse ser o engenheiro da obra.

Ele perguntou em que poderia nos servir. Eu tomei a palavra e disse:
– Estamos à procura de trabalho, como vimos a placa que vocês estão precisando de funcionários, viemos entregar nossos currículos.

O engenheiro, meio constrangido, falou:

– Sou da Construtora Guaratan de São Paulo. Aqui está sendo construído um prédio de um órgão muito importante, quem sabe quando terminarmos a obra, vocês consigam emprego nessa repartição! Porque aqui estamos precisando é de funileiros.

Pedimos desculpa e saímos, não sem antes ler a placa: PRECISA-SE DE FUNILEIROS que nossa mente reproduziu PRECISA-SE DE FUNCIONÁRIOS.

O tempo passou e aquela história permaneceu como um tabu, não contávamos a ninguém – passamos um vexame daqueles! Até brincamos: como procurar emprego, se não sabemos nem ler?

Aquele episódio veio à minha mente no dia que assumi o cargo de Auditora Fiscal da Receita Federal naquele mesmo prédio do Ministério da Fazenda, outrora em construção.

Tive vontade de contar a história na solenidade de posse, mas não tive coragem.

Entre risos e aplausos no dia 11 de setembro de 2013, em uma festinha de bota-fora pela minha aposentadoria, finalmente contei o episódio, talvez estimulada pela leitura do texto de Joãozinho Ribeiro sobre mim, que denominou: “Ana: de Peri-Mirim para o mundo”, em que contou até sobre a minha asma, que minha mãe não me deixava contar, por nada neste mundo!

O compadecido engenheiro teria feito uma profecia?

Publicada nas páginas 160/162 do Livro Ecos da Baixada.

São Luís do meu imaginário: Reminiscências

“Você está ouvindo a mais poderosa emissora do Norte e do Nordeste do Brasil. ZYF23, ZYF24, Rádio Difusora do Maranhão. 44° 18′ a Oeste de Greenwich, 2° 32′  ao Sul do Equador. Ondas médias, Curtas e Tropicais…”

        Era mais ou menos assim que se ouvia no vozeirão empostado de Fernando Sousa, grande locutor maranhense, o anúncio de que estávamos sintonizados na emissora de maior audiência de São Luís, e do Maranhão, do final dos anos sessenta e inicio dos anos setenta.  As emissões em Frequência Modulada (FM) ainda não haviam chegado à nossa terra. Apenas existiam nos grandes centros do  Sudeste do Brasil. Além da Difusora, havia as Rádios Ribamar, Timbira, Gurupi e, bem depois, a Educadora.

        Além de Fernando Sousa, outros radialistas que fizeram história foram Murilo Campelo, que era piauiense (Rádios Atrações MC), Zé Branco, Guioberto Alves, Herbert Fontenelle, Mauro Campos, Rui Dourado, Leonor Filho, Jafer Nunes, Florisvaldo Sousa… Aos domingos às noites tinham as “paradas de sucesso”, onde se ouviam as 40 músicas mais tocadas durante a semana.  Uma  cópia de um programa famoso das rádios americanas de então (que ainda existem nos dias de hoje, de nome America Top Forty). Épocas de Beatles, Jovem Guarda. Mas as músicas italianas e francesas também estavam nas “paradas de sucessos”.  Ficou famosa a Equipe 680 que comandava as jornadas esportivas da Difusora. Tinha uma música belíssima que era colocada antes, durante e o final das transmissões esportivas.

        Os Times de futebol eram Sampaio Correa, Moto Club, Maranhão Atlético Clube, Vitória do Mar e Nacional. Sampaio, Maranhão e Moto se reversavam nas conquistas dos títulos estaduais. Eu era “boliviano” fanático. Daqueles de assistir aos treinos e saber decorado quem eram os jogadores do meu time. Sampaio e Moto sempre foram os maiores rivais no futebol maranhense. Mas as rivalidades das torcidas se limitavam aos gritos de gol, vaias… Nada de violência de torcidas organizadas. Aliás, essa figura nefasta não existia. É coisa da modernidade.

        Os cursos Ginasiais (últimos quatro anos do atual nível fundamental) e Científicos (três anos do atual nível médio) eram feitos no Liceu, Escola Normal (que funcionava às tardes no mesmo prédio do Liceu e era apenas para moças que queriam ser “Normalistas”. Lembram da música do Nelson Gonçalves?) Escola Técnica. As duas escolas públicas, cujos exames de admissão (espécie de vestibular para entrar no primeiro ano ginasial) eram disputadíssimos. Mas havia também os Colégios Maristas, São Luís, Atheneu. Havia os colégios religiosos. Os católicos eram o Rosa Castro e Sana Teresa (só para moças). O protestante era o Batista que ficava no João Paulo.

        A  nossa patota do Liceu era estudiosa. Lá estavam o Herbert de Jesus, que hoje é poeta, escritor, contista. Os que fizeram Medicina: Maneco, Frazão (já falecido), Gualhardo, Gonçalves de Jesus (Espírita). Ivaldo, Pina (Designer). Érico e o Heliomar Scrivner Furtado (Engenheiros Civis). Eu fiz Agronomia em Belém. Todos nós fomos para o Cursinho Pré-Vestibular do Prof. José Maria do Amaral, estágio obrigatório para quem queria conquistar uma vaga nos concorridos vestibulares de então.

        Um detalhe que chama atenção, vendo os fardamentos dos colégios de hoje, eram os uniformes de todas as escolas de então. De muito bom gosto. A do Liceu no Ginásio (que tinha apenas garotos) era toda cinza. A calça tinha vinco azul claro nas laterais das duas pernas. A blusa no curso científico do Liceu era branca, mangas compridas, com dois bolsos com lapelas. Sobre a lapela do bolso esquerdo se liam as iniciais de Colégio Estadual (CE). Desenhado no bolso vinham uma, duas ou três estrelas. Todos esses detalhes em azul. O número de estrelas denunciava o “primeiro”, “segundo” ou “terceiro” ano do curso cientifico. No pescoço, uma garbosa gravata azul, com o nó bem dado. Uma elegância só.

        Ao final das manhãs, ao terminarem as aulas, descíamos em patota a “Rua Grande” (Oswaldo Cruz) que era a principal rua do comércio em São Luís. Íamos apanhar os ônibus na Av. Magalhães de Almeida. O meu eu apanhava na esquina do Bazar Ferro de Engomar.  Também desciam as garotas dos demais colégios. Era época das minissaias. Ficávamos na torcida para que “um vento buliçoso”, não apenas “balançasse os cabelos” das garotas, como nos versos da bela Toada “Bela Mocidade” do Poeta Donato do Boi de Axixá, mas que também fosse “generoso”  conosco. Íamos à loucura, quando isso acontecia. Bom demais!

        Essa é a São Luís que ficou no meu imaginário. Saí em busca da conquista dos meus sonhos e não mais voltei. Nasci com muita honra no Paricatiua, um belo povoado do município de Bequimão. Mas foi em São Luís que eu me preparei para ganhar  e conhecer o mundo. Aí estão as minhas raízes, as minhas lembranças, as minhas primeiras frustrações…. Mas também estão algumas das minhas maiores alegrias da fase juvenil, convivendo com os meus pais, com o meu irmão, com os meus colegas de bairro e de Colégio. Tínhamos consciência das nossas muitas carências. Mas fomos muito felizes. E também sabíamos! 

*José Lemos é natural de Paricatiua – Bequimão/MA, Professor da Universidade Federal do Ceará, Engenheiro Agrônomo, Pós-Doutor em Economia dos Recursos Naturais e do Meio Ambiente pela Universidade da California, Riverside, CA, USA. Artigo publicado no Jornal O Imparcial do dia 12/05/2018.

Grandes melhoramentos serão inaugurados, hoje, em Peri-Mirim

O Senador Vitorino Freire e os Deputados Djalma Brito e Moreira Lima, estarão presentes as festividades.

O nosso dedicado amigo e correligionário Sr. Agripino Marques, operoso Prefeito Municipal de Peri-mirim, entregará hoje aos seus munícipes duas importantes obras que assinalaram sua operosidade e descortino a administrativo, inaugurando solenemente o novo prédio da  Municipalidade e um possante motor que fornecerá iluminação pública àquela cidade.

Sente-se o Partido Social Trabalhista satisfeito em ver um correligionário sua colher os frutos de sua administração modelar, como vem de acontecer o prefeito Agripino Marques, que, que trabalha incessantemente no sentido de corresponder à confiança, principalmente daqueles que deflagraram nas urnas o seu honesto nome.

Afim de tomarem parte nas festas de hoje em Peri-mirim, viajarão hoje por via aérea com aquele destino o senador, Vitorino Freire, que representará o Governador Eugênio Barros, deputados Djalma Brito e Gonçalo Moreira Lima. “Diário Popular”, especialmente convidado, far-se-á representar antecipadamente, desde já as suas efusivas congratulações ao dinâmico prefeito Agripino Marques.

Peri-Mirim – A chegada a Peri-Mirim, foi outro lance de vivo entusiasmo por parte do povo, tendo a sua frente o dinâmico Prefeito Municipal, sr. Agripino Marques, que vem realizando obras de vulto incontestáveis na sua comuna bastante prestigiado pela coletividade Peri-Mirense.

Pelo adiantado da hora, foi dado início a solenidade inaugural do novo edifício da Prefeitura Municipal, logo após a chegada, rumaram a distinta comitiva seguida do povo, para a Praça São Sebastião, onde se levanta aquele formoso próprio municipal.

Inicialmente, usou da palavra o sr. Prefeito Agripino Marques, lendo substancioso discurso, em que esclareceu o total das despesas efetuadas com a construção daquele Edifício, ressaltando que muito devia ao Senador Vitorino Freire o êxito obtido nas realizações que vinha empreendendo. Sob intensa vibração popular, tomou a palavra o eminente senador Vitorino Freire, agradecendo inicialmente as palavras do sr. Prefeito e estendendo-se em oportunas considerações a respeito das administrações municipais, terminando por exaltar a operosidade do sr. Agripino Marques, considerando-o o mais dinâmico auxiliar do atual Governo, no Interior do Maranhão, afirmação que fazia com pleno conhecimento de causa. “

Em seguida o Ilustre Orador declarou inaugurado aquele melhoramento, perante a seleta sociedade local. O sr. Prefeito convidou aos presentes para assistir a inauguração da Usina de Luz e Força da Cidade, última parte do programa de festas que realizou-se logo após, falando neste ato o sr. Prefeito Municipal, senador Vitorino Freire e os representantes dos municípios vizinhos.

As dignas autoridades aninharam-se para o local onde estava instalado o possante motor de Luz, cuja chave de partida foi acionada pelo técnico João Batista de Oliveira, encarregado da montagem do mesmo, o que foi feito com a devida perícia.

A noite de 14, realizou-se lauto banquete na residência do sr. Prefeito Agripino Marques, onde usaram da palavra os seguintes oradores; Dr. Domingos Silva, Dep. DJalma Brito, sr. Benedito Muniz e as senhoras Inah Barros e Naiza Ferreira de Amorim, que durou até alta madrugada, coroando-se de pleno êxito, as festividades levadas a efeito em Peri-Mirim, que acolheu fidalgamente os seus visitantes, sob um clima de mais estreita cordialidade.

  • Diário Popular – Ano III, nº 390 – Domingo, 14.09.1952, pág. 01.

Secretário de Agricultura ganha cidadania perimiriense*

Em sinal de reconhecimento, pelos relevantes serviços prestados a Peri-Mirim, a Câmara  Municipal daquele Município por unanimidade, resolveu conceder ao Dr. Lourenço Vieira da Silva, o Título de Cidadão Perimiriense.

Essa Resolução formada em Sessão do dia 27 de janeiro último, visa coroar os trabalhos da Secretaria de Agricultura desenvolvidas naquela região e que culminaram com a construção da Barragem do Gigante.

Essa Barragem, anteriormente conhecida como Barragem do Defunto, há muito era uma velha aspiração dos criadores da Baixada, os quais, para fugiras estiadas, se viam obrigados a deslocar para outras plagas o gado de sua propriedade, sofrendo, com isso, enormes prejuízos e transtornos.

Várias vezes tentada, por iniciativa dos moradores da localidade, somente agora essa barragem teve sua construção concretizada, graças ao planejamento do Governo, dentro da Pasta da Agricultura.

A equipe do Secretário da Agricultura, sob orientação do Engenheiro Agrônomo Antônio Augusto Martins, vencendo as dificuldades naturais da região, executou em tempo recorde essa obra com entusiástico apoio do Prefeito Municipal, Se. José Ribamar Martins França e completa colaboração da Câmara Municipal, permanentemente representada pelo Secretário da Mesa no Canteiro de Obras.

Situada a 20 Km da sede do Município de Peri-Mirim, a Barragem do Gigante, serve ainda aos criadores de São Bento e Bequimão, tendo sua importância ressaltada pelo fato de que sua construção impede, agora, o salgamento da água, a salinização do solo e a morte do peixe, considerado alimento básico do homem da Baixada.

Dentro de breves dias o Secretário da Agricultura se deslocará ao Município de Peri-Mirim, a fim de receber o Título que lhe foi conferido.

*Artigo Publicado no Jornal O Imparcial nº 16.073 – Sábado, 24-2-1968 – pág. 8

Apontamentos históricos sobre Peri-Mirim